Leitores virtuais, uni-vos!

A literatura está mais presente na vida cotidiana do que supõe a grande maioria das pessoas. Apesar da estatística ainda pobre, fruto na verdade da pobreza de parte considerável da população do país e do fato do produto livro ainda custar muito acima das possibilidades dessa parcela da população, o brasileiro lê sim e, graças a internet, tem lido cada vez mais. O último levantamento oficial feito pelo Ministério da Cultura (Minc), em 2008, dá conta de que os brasileiros leem, em média, 1,8 livro por ano. Naquela ocasião, o país de 189 milhões de habitantes possuia cerca de 26 milhões de leitores considerados ativos. Estes, liam 3 livros por ano. No entanto, a pesquisa levava em conta apenas os livros em papel e, claro, como toda pesquisa, foi feita por amostragem. De lá para cá, algo vem mudando no cenário nacional. Como leitora ávida, com uma média de ao menos cinco livros por mês, percebo que os estudiosos de literatura deixam de considerar um fator importante nas suas pesquisas: as redes sociais de leitores, que proliferam na internet em progressão geométrica.

Existe ainda um ranço acadêmico que deixa de considerar literatura, o consumo de HQs, desde os gibis da Turma da Mônica até os mais sofisticados mangás, ou mesmo que relega à categoria de sub literatura aqueles romances vendidos nas bancas de revistas (Júlia, Sabrina e cia). Isso, só para citar algumas das produções literárias que extrapolam o formato do livro convencional ou oferecem outra alternativa que não a leitura apenas dos chamados “grandes clássicos”. Sem contar os blogues, onde cada vez mais autores independentes compartilham seus contos e poemas, ou mesmo os e-books e audiolivros, que vêm se popularizando na esteira da inclusão digital.

Preconceito? Provavelmente sim. É importante ler os clássicos? A resposta também é positiva. É importante ter contato com o livro em papel? Para mim, que sou fetichista, com toda certeza. Mas, acredito que, antes de repetir a máxima de que os brasileiros não leem, vale a pena dar uma checada em todas as possibilidades de se fruir literatura disponíveis na sociedade contemporânea. Desde bibliotecas públicas até as redes virtuais de leitores, que é onde quero chegar com toda essa conversa.

Turma da Mônica Jovem, aposta de Maurício de Souza na continuidade do seu público leitor para além da infância

Mais ainda, porque não tem como não tocar no assunto, antes de afirmar que os brasileiros não leem, é preciso saber que tipo de incentivo ou de acesso vem sendo dado à população para que frequente as citadas bibliotecas públicas ou busque as outras formas de fruição literária, como a virtual. Incentivo à leitura, por exemplo, é mais eficiente se começa desde a infância. Mas com todas as deficiências na educação básica do país, não é de admirar que muitos jovens, sobretudo nas periferias brasileiras, nunca tenham lido um único livro. Ainda assim, será que esses jovens não buscam outras formas de compensação? Será que não fruem a literatura em outros formatos? Ou ainda, mesmo que não estejam tão interessados nisto, por quê não? Eis aí perguntas que não me julgo capaz de responder, mas que deixo aos estudiosos do tema e também lanço para vocês, leitores do blog, caso tenham interesse em debater o assunto. Fiquem à vontade para compartilhar opiniões.

Skoob – Voltando às redes sociais de leitores, faço parte de uma dessas comunidades. Fui levada para o Skoob por meu filho de 12 anos e por minha irmã, muito mais versados em tecnologia do que eu, uma migrante digital assumida. Estou no grupo há cerca de seis meses e tenho gostado muito da experiência. A ideia da rede é reunir diversos amantes da literatura, que trocam dicas de leitura, comentários e seguem uns aos outros, como no Twitter. O modelo lembra comunidades como Orkut ou Facebook. Você faz o seu perfil, com alguns dados pessoais e de interesses gerais, incluindo oferecer links para suas páginas pessoais na internet (flickr, blog, twitter e etc) e pode reunir o seu acervo, ou seja, lançar na sua página do Skoob, todos os livros que possui na sua estante em casa, ou todos que já emprestou, os que leu, qual está lendo no momento, avaliar estes livros com notas de 1 a 5, “favoritar” os seus livros do coração e outra infinidade de coisinhas que dá para fazer.

Um dos itens mais interessantes, ao menos para mim, que vivo da escrita, é a possibilidade de publicar resenhas sobre suas leituras. E como é uma rede, cabe de tudo, desde “o livro que eu mais gosto é” até análises críticas mais profundas e especializadas. Fico pensando no capital intelectual que isso gera para editoras, autores e para o conhecimento da humanidade como um todo. Penso nas possibilidades ilimitadas de armazenar impressões coletivas sobre um bem cultural. Confesso, estou fascinada!

O mais interessante é que, numa rede como essa, o Skoob é só um exemplo, mas existem diversas outras, cabe todo tipo de leitor. Desde os consumidores de HQs até aqueles habituados a ler os “clássicos”. Dos fãs de romances “água com açúcar até aqueles mais densos e profundos. Dos necessitados de livros de autoajuda (e por quê não?) até os que buscam produções acadêmicas de grande prestígio científico. Livros técnicos, contos de fadas, literatura medieval ou moderna, tudo isso convivendo no mesmo espaço. Não digo de forma harmoniosa porque, infelizmente, o ser humano, dentro ou fora da rede, não convive tão bem assim com o diferente (estamos ainda em fase de aprendizado nesse nível) e por isso, vira e mexe, aparece alguém querendo qualificar as leituras de uma forma negativa, do tipo “leio coisas mais interessantes que você”. O bom é que elas são cada vez mais raras.

Bianca (edição espanhola), uma das séries de romances “água com açúcar” batizada com nome feminino e que há gerações mantém uma boa quantidade de leitoras ávidas

O que aprendi nesses seis meses de Skoob foi a compartilhar ideias e a receber críticas. Exercitei o poder de argumentação ao rebater essas críticas. Tive textos de resenhas avaliados, alguns de forma muito positiva (cinco estrelinhas, como diria a personagem de um livro que li recentemente) outras nem tanto e algumas até, com o curto e grosso “não gostei”. Para o ego é bom esse tipo de exercício, pois ensina humildade. Além do fato de que também pude avaliar a produção de outros da mesmíssima forma, o que torna a brincadeira mais justa.

Recentemente, andei refletindo aqui mesmo no blog, sobre a questão da privacidade, principalmente na internet, onde as redes sociais, num aspecto negativo, acabam possibilitando uma superexposição. Hoje, decidi falar de um aspecto positivo das redes. Até para equilibrar a balança.

Equilibrio é sempre a meta!

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Links para saber mais:

>>skoob.com.br

>>shelfari.com (essa é outra rede que funciona em moldes parecidos com o Skoob, a diferença é que está em inglês. Pessoalmente, após experimentar o Shelfari por uns meses, me dei melhor com a interface do Skoob, mais fácil e gostosa de navegar)

>>olivreiro.com.br (essa reúne tanto autores, quanto leitores e vendedores)

>>goodreads.com (também em inglês)

*Caso você conheça ou esteja inserido em outra rede social de leitores, deixe o endereço na caixa de comentários do post.

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*Outros dados sobre hábitos de leitura

>>No mesmo ano da pesquisa do Minc (2008), citada no começo do post, o portal Universia, que reúne uma rede de universidades na Europa, Ásia e América Latina, divulgou outro estudo: Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope Inteligência. Nesta pesquisa, a média de livros lidos por ano pelos brasileiros subiu dos 1,8 do Minc para 4,7. Na mesma reportagem, apresentavam-se os seguintes dados: “Os jovens, segundo a pesquisa, são os que mais leem no Brasil. Dos 95,6 milhões de leitores no país (universo maior do que a amostragem do Minc), 39% estão na faixa etária de 5 a 17 anos e outros 14% possuem entre 18 e 24 anos. O público entre 11 e 13 anos chega a ler 8,6 livros por ano. O volume entre os leitores de 5 a 10 anos é de 6,9 livros por ano. No mesmo período, os brasileiros de 14 a 17 anos leem em média 6,6. O sexo feminino também se sobressai no estudo. De acordo com os dados divulgados, as mulheres leem mais que os homens – 5,3 contra 4,1 livros por ano”.

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P.S.: A quem interessar possa, eis o link para minha página no Skoob. Em seis meses, fiz 16 amigos virtuais e arrumei 10 seguidores.

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