Que cheirinho bom! – a história do perfume

Liz Taylor imortalizou uma Cleópatra de beleza estonteante, bem diferente da rainha egípcia real

Liz Taylor imortalizou uma Cleópatra de beleza estonteante, bem diferente da rainha egípcia real

Diz a lenda que a rainha egipcia Cleópatra era uma mulher feia. Não, esqueçam Elisabeth Taylor e seus olhos violeta vivendo intensamente o papel no cinema. A Cleópatra real era feia. Pelo menos é o que atestam pesquisadores que até já tentaram reconstruir o rosto da rainha, baseados claro, em crônicas do período em que ela viveu. Mas, ainda assim, mesmo não sendo uma beldade, seduziu dois imperadores romanos. O segredo de Cleópatra é amplamente conhecido e usado por todas nós: perfume. Cleópatra adorava unguentos e pomadas aromáticas, usava e abusava de fragrâncias de todos os tipos. A cena da rainha entrando furtivamente no quarto de Júlio César, sendo contrabandeada para a ala do palácio onde o imperador se hospedava, enrolada em um tapete, é real. Quem garante é a escritora e jornalista americana Margareth George, autora do best seller As memórias de Cleópatra. O livro é um romance histórico, mas a autora atesta que muito do que está em suas páginas é fruto de pesquisas iniciadas em 1956, quando ela redigiu o primeiro trabalho acadêmico sobre a soberana. César não ficou impressionado com a beleza da rainha, mas sucumbiu ao cheiro agradavelmente sedutor de Cleópatra. E é pelo cheiro, através do sistema límbico (no cérebro), que reconhecemos os semelhantes, pressentimos o perigo e nos apaixonamos. Um instinto biológico, mas que com o passar do tempo sofisticou-se graças a capacidade humana de imaginar e projetar o belo, o agradável. Este post não pretende falar sobre a soberana que se matou com uma picada de serpente ou sobre seus romances, mas da fixação dela por perfumes. Todas nós, em maior ou menor grau, compartilhamos a paixão da rainha egípcia por cheiros agradáveis. E foi lá mesmo, no Egito antigo, antes até da dinastia dos ptolomeus (a de Cleópatra) que o perfume nasceu. Quer saber como foi?

“Per fumum” para agradar aos deuses

Oferenda de incenso para Osíris, deus do panteão egípcio

Oferenda de incenso para Osíris, deus do panteão egípcio

A palavra perfume é de origem latina, per fumum, e significa “pela fumaça”. O nome foi inventado pelos romanos, embora o perfume já existisse bem antes do advento do império mais poderoso da antiguidade. Uma lenda hebraica diz que o perfume foi uma criação de Deus, que teria dito a Moysés, na mesma ocasião em que ditou para ele os Dez Mandamentos, para queimar incensos aromáticos (fumaça), criados a partir de ervas e flores, e assim homenagear o Criador. Lendas à parte, foi para honrar os mortos e os deuses que o perfume surgiu. Há mais ou menos 2.000 a.C, os egípcios já fabricavam unguentos e pomadas para untar os corpos dos mortos da nobreza, que seriam embalsamados. O perfume nasceu com as múmias. Das casas mortuárias egipcias, a criação dos antigos embalsamadores migrou para os altares e o seio da nobreza, literalmente, pois só os nobres podiam usar determinadas fragrâncias consideradas divinas. No entanto, os soldados também tinham direito de usar pomadas cheirosas e em 1.330 a.C, até fizeram uma greve contra o faraó Seti I. Pensam que eles reclamaram da falta dos soldos ou de comida? Que nada, o perfume tinha acabado!

O árabe Avicena, médico e químico, é inventor do processo de extração de óleos de flores através da destilação usado até os dias de hoje

O árabe Avicena, médico e químico, é inventor do processo de extração de óleos de flores através da destilação usado até os dias de hoje

É a partir do século X que os árabes transformam os antigos unguentos, óleos e pomadas da antiguidade, no avô dos perfumes contemporâneos. Os alquimistas da Arábia descobriram várias formas de extrair as essências das plantas, diluí-las em álcool e fixarem o cheiro a partir do almíscar encontrado nas glândulas sexuais de alguns animais. Hoje em dia, o PETA e o Greenpeace brigam para que marcas famosas como o Channel N. 5 deixem de extrair substâncias dos pobres bichos e usem fixadores desenvolvidos em laboratório. Para mim, que adoro perfume, é bem mais confortável ter certeza de que minha fragrância preferida não foi adquirida a partir do sofrimento de um animal indefeso.

Da Arábia, os perfumes conquistaram os espanhóis, que viveram sob dominação árabe em parte da Idade Média. Da Espanha, o hábito de se perfumar avançou pela Europa. A fama dos perfumes porém, começou na França do século XIV. Até hoje, o país é referência mundial em perfumaria.

Você sabia quê…

>>O primeiro perfume a se popularizar na Europa foi feito para a rainha Elisabeth, da Hungria, em 1730, e não passava de uma delicada água de rosas;

>>A partir do século XIX o perfume passou a ser usado como terapia. A aromaterapia é o uso de substâncias com odor agradável para ajudar no bem-estar. Cheiro de lavanda, por exemplo, é calmante; enquanto hortelã é curativo, limão ajuda na concentração e alegrim alivia o cansaço;

>>Um perfume é feito a partir da combinação de até 200 substâncias;

>>Assim como os acordes de uma música, perfume tem nota: as de cabeça são as que evaporam em três minutos; as de coração, formam o cheiro real do perfume e duram até oito horas e as notas de fundo são o cheiro residual, que permanece na pele até por 24 horas;

Cena do filme O perfume. Homem obcecado pelo cheiro de belas mulheres inicia uma série de assassinatos na França do século XVIII

Cena do filme O perfume. Homem obcecado pelo cheiro de belas mulheres inicia uma série de assassinatos na França do século XVIII

Leitura cheirosa

>>O perfume, do escritor alemão Patrick Süskind, narra a história de um homem que nasce com o incrível dom de fabricar os perfumes mais incríveis do mundo, mas que devido a uma obsessão, se envolve numa rede de crimes hediondos. O livro virou filme, em 2006, mas a adaptação cinematográfica fica muito aquém do poder narrativo do autor do livro. Ao ler O perfume, você consegue sentir cada fragrância descrita pelo autor. O diretor do filme chegou a confessar em entrevista na época do lançamento que cinema devia ter cheiro.

>>perfume-livroOutra boa dica para quem quer saber mais sobre perfumes é o livro Essências e Alquimia, de Mandy Aftel, lançado no Brasil pela editora Rocco, dentro da coleção Prazeres e Sabores. Traz a história do perfume e sua importância ao longo da história, informações sobre como o perfume age no psicológico das pessoas e esclarece o que é memória olfativa. A autora também ensina os segredos da fabricação dos bons perfumes e dá conselhos sobre como misturar substâncias variadas e adquirir um agradável buquê.

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