Os filmes da semana

Dias férteis no quesito tirar o atraso da filmografia. Selecionei aleatoriamente, alguns nunca tinha visto, outros deu vontade de rever, mas segui o critério de ver algo que combinasse com o estado de espírito do momento. Sete filmes, sete microcomentários para os interessados. Já conhecem o lema: divirtam-se!

Pride

O filme de 2007 é baseado em fatos reais e conta a história de Jim Ellis, promissor nadador afroamericano que por racismo é retirado de sua equipe durante uma competição. Após discutir com um policial, Ellis é preso e dez anos depois, arruma emprego como empacotador de quinquilharias em um centro esportivo que está para ser fechado em um bairro barra pesada da Filadélfia. É quando decide reunir os jovens em risco de tornarem-se traficantes da vizinhança e dar-lhes aulas de natação. Ellis fundou a primeira equipe de nadadores afroamericana, nos anos 70, a PDR, e teve de vencer o preconceito não só da federação esportiva, mas dos próprios jovens nadadores. O filme segue o melhor estilo Ao mestre com carinho e é uma daquelas sessões da tarde de antigamente, quando passavam bons filmes na sessão da tarde. A homenagem ao nadador é  mais que justa e apesar de falar de superação, luta contra o racismo e perseverança, não é nem panfletário e nem piegas. É muito verdadeiro, traça um ótimo panorama da época e da conquista de direitos civis pelos negros nos EUA, poderia ser exibido nas escolas, seguido de um bom debate com os adolescentes, e ainda assim, seria um filme comovente e bom entretenimento. Dou oito para o conjunto e nove para o desempenho dos atores Terrence Howard (que vive Ellis) e Bernie Mac, um coadjuvante que rouba a cena. Boa pedida também para aficcionados por natação e competições olímpicas.

Shakespeare apaixonado

Este filme, de 1998, pertence ao rol das minhas memórias afetivas. Ou seja, é daqueles que gosto de graça. Leve, poético, divertido, cria uma fantasiosa história de amor que teria inspirado William Shakespeare a escrever Romeu e Julieta. Ao mesmo tempo que celebra a devoção pela arte de representar, tanto no palco quanto na telona, também homenageia a literatura e o grande mestre inglês. Muito legal também rever a fofa Gwyneth Paltrow em começo de carreira e o sempre competente Geofrey Rush, além do não menos maravilhoso Colin Firth, vivendo um vilão deliciosamente divertido e ridículo, e a classuda Judy Dech, eterna dama britânica (adorooo!!!). Não tenho o que reclamar deste filme, gosto de tudo, dou dez para o elenco e para a produção, para a engenhosidade do roteiro e para a leveza  e a despretensão com que certos filmes da década de 90 eram feitos. A crítica especializada no Brasil tem birra do filme porque Gwyneth levou o Oscar, desbancando Fernanda Montenegro e Central do Brasil. Embora acredite que Fernanda merecia o oscar e que Central é um excelente filme, não consigo não gostar de Shakespeare Apaixonado apenas por isso. Não tenho a rivalidade cega dos torcedores de futebol. Antes, atribuo que é uma insensatez eterna do Oscar reunir na mesma competição estilos tão díspares, criando rivalidades e antipatias despropositadas com trabalhos que, caso não estivessem competindo, certamente seriam apreciados com o mesmo respeito, cada um dentro do seu estilo. Ainda assim, creio que o cinema atual, com raras exceções, esqueceu essa simplicidade que divertia.

Harry Potter e o enigma do príncipe

A crítica deste vou roubar de Snaky Theu, meu intrépido filho de 12 anos, mas antes, uma contextualização histórica: Snaky Theu tinha 4 primaveras e alguns dentinhos “na muda” quando o levei ao cinema pela primeira vez. O filme era Harry Potter e a pedra filosofal. Daí em diante, não paramos mais, nem de ir ao cinema e nem de comprar livros. Bom, agora, vocês já sabem que o “crítico” tem oito intensos anos de cinema e literatura na veia. Acrescento que é um virginiano clássico, com um senso crítico desconcertante (e muitas vezes irritante também!). Agora as aspas que eu roubei: “o filme é estranho, parece que fica dando saltos, emendando pedaços da história com outros pedaços que não se encaixam, é sem sentido”. Ele assistiu primeiro que eu e juro que tentei ver sem me lembrar das benditas aspas e do vaticínio do meu exigente pré-adolescente, mas foi impossível não concordar. O filme é sim uma colcha de retalhos muito mal costurada. As sequências são atropeladas, a história original modificada desnecessariamente, pedaços importantes até para compreender o fim da saga foram retirados. O pior da série, sem dúvida, e olha que o livro é bem interessante. Só recomendo para os fãs e vou logo dizendo que é decepcionante. Nota cinco.

RAN

Bebi na fonte de um clássico e mais uma vez me vi às voltas com Shakespeare. Ele anda me rondando ultimamente, em filmes e em livros (Admirável Mundo Novo e 1984, que emendei a leitura, citam-no à exaustão). Dessa vez porém, uma mistura de Shakeapeare com o sistema feudal japonês e os samurais de Akira Kurosawa. Ran é uma releitura de Rei Lear, isso todo mundo sabe, mas acredito que seja reducionista assisti-lo apenas como um Shakespeare de olhinhos puxados. É até desrespeitoso com a representatividade  de Kurosawa para o cinema enquanto expressão artística e com a linguagem peculiar de seus filmes. O filme é emocionante, causa um impacto daqueles difíceis de mensurar. A câmera passeando por aquela vastidão de paisagem de campos e desertos me dá uma aflição e ao mesmo tempo um enternecimento na alma. As cenas de batalha são demasiadamente humanas, sem pirotecnia, mas grandiosas. Existe uma beleza ao longo do filme como se assistíssemos um ballet mortal e sinistro, orquestrado pelo destino. É o meu Kurosawa preferido. Para quem nunca assistiu, conta a história de um senhor de terras do Japão feudal e rural, que na velhice, decide dividir seus bens entre os três filhos, desencadeando uma guerra funesta dentro do próprio clã. É Rei Lear, sem dúvida, até na loucura que domina o patriarca e no remorso que o corrói feito veneno, mas é bem mais que apenas reler Shakeapeare. É uma tragédia ao estilo de Kurosawa, cheia de nuances psicológicas e referências oníricas. É perfeito!

Matilda

Inspirado em livro homônimo de Roald Dahl (o meu favorito deste autor), Matilda é uma comédia dos anos 90, de Deni DeVito. Uma excelente adaptação da obra original, diga-se de passagem, protagonizada por uma menininha tão carismática quanto a personagem criada pelo autor britânico. Matilda (livro e filme) é uma menina especial que nasce numa família mesquinha. O pai vende carros usados adulterados e a mãe é uma perua sem noção que acha que uma mulher precisa ser bonita e não inteligente para sobreviver. De preferência, deve arrumar um marido rico, mesmo que ele seja tosco, rude e a despreze. Dahl brinca com estereótipos e seus personagens são caricatos e exagerados. DeVito consegue transpor esse universo meio nonsense e lúdico do autor para o filme com competência. Não é uma obra-prima, mas pertence ao rol das sessões da tarde gostosas, é divertido, atinge o público-alvo (infanto-juvenil) e ainda diverte muito aos pais. Humor inteligente e com a capacidade de Roald Dahl de falar de coisas simples e óbvias com ironia e criatividade. Já revi o filme diversas vezes e sempre rio das mesmas piadas. Recomendo para quem gosta de comédias fofas e também indico o livro, que é primoroso. Dez por seguir tão bem sua proposta.

Ensinando a viver

Lamentável a mania que os exibidores brasileiros têm de alterar os títulos originais dos filmes e sempre para pior. Criança de Marte, com toda certeza, ficaria muito mais interessante para este filme protagonizado por John Cusack do que Ensinando a viver. Mas enfim, títulos a parte, não tinha assistido esse do Cusack ainda. Gostei. É muito bonitinho. Conta a história de um garotinho que pensa que é marciano, daí o título original (Martian Child) e de um escritor de ficção científica, viúvo, que decide adotá-lo. É o típico filme americano que relê pela centésima vez o mito do patinho feio. Eu adoro o patinho feio, todos temos um pouquinho dele em alguma fase da vida. Nesse caso, o garoto é um outsider, considerado esquisito pelos padrões “normais” das escolas e da sociedade americana. O próprio escritor que o adota é tão exótico quanto o menino. Juntos, eles tentam encontrar uma forma de sobreviver em meio a tanta normalidade, mas sem perder a criatividade que os torna pessoas únicas. O roteiro é básico, mas bem resolvido. Uma comédia dramática familiar, para assistir no Natal, para quem gosta de rótulos, mas tão gostosinho quanto o primeiro Esqueceram de Mim. Apesar de ser recente, tem aquela carinha de filme dos anos 90, que eu adoro, gente, era minha adolescência e juventude afinal de contas. O menino que interpreta a criança de marte, Bobby Coleman, é um fofo. John Cusack, com a mesma carinha de cachorrinho caído do caminhão da mudança no meio da chuva, igualmente fofo. Nota oito.

Náufrago

Esse é da fase em que Tom Hanks estava com a bola toda e emendou na sequência prêmios por Forrest Gump, Filadélfia e O resgate do soldado Ryan. Gosto mais do Tom Hanks das comédias bobinhas e deliciosas da minha adolescência (Quero ser Grande, Um dia a casa cai e Splash: uma sereia em minha vida), gosto muito menos do Tom Hanks versão O Código Da Vinci. Náufrago conta a história de um funcionário do FedEx que sobrevive à queda de um avião e vive quatro anos numa ilha deserta em companhia de uma bola de vôlei que ele chama de Wilson. Quando volta para casa, descobre que a mulher casou com outro e que após passar todos os perrengues possíveis e imagináveis na ilha, ele mesmo já não é mais a mesma pessoa. Literalmente volta dos mortos, mas morrer e retornar não é uma coisa simples. Essa poderia ser a grande metáfora do filme, além da questão da loucura, lucidez, da solidão e do fato de sermos animais gregários, que precisam viver em comunidade, daí os diálogos (monólogos) de Chuck com a sua bola Wilson. Não tenho a menor ideia sobre porque resolvi assistir esse filme de novo após tantos anos, talvez ande me sentindo meio à deriva.

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