
Como adolescente dos anos 90, me diverti e sonhei com filmes como Uma Linda Mulher, protagonizado pela diva da minha geração: Julia Roberts
Vencer os próprios preconceitos é um dos maiores estágios evolutivos que uma pessoa pode alcançar. Quanto menos preconceituosos nos tornamos, menos intolerantes seremos e mais propensos a exercitar a aceitação das diferenças. Nossos olhos se abrem para admirar a diversidade do mundo. E graças a Deus que ele é ricamente diversificado, senão seria um tédio mortal. Não era bem um preconceito o que eu nutria pela chamada literatura “cor-de-rosa” ou, dando nome aos bois, pelo chicklit, o gênero literário feminino do qual derivam obras como o clássico do pop, O diário de Bridget Jones e séries de tv estilosas como Sex and the city. Antes, era uma total falta de oportunidades – talvez de interesse – em me aprofundar no estilo, conhecê-lo melhor.
A gente só entende aquilo que se dá o direito de conhecer.
Nunca tinha lido chicklit. Fui uma criança completamente perdida no mundo da fantasia, imersa nas Brumas de Avalon, cúmplice de Cassandra de Tróia, matei a Medusa ao lado de Perseu. Era leitora voraz dos clássicos, ainda sou. Cresci na companhia de Machado de Assis, de Clarice, de Jorge Amado. Na vida adulta descobri Gabriel Garcia Marques, Graciliano, Eco, Neil Gaiman. Tolstói, Dostoiévski, Morris West, todos participaram das minhas brincadeiras. A vida inteira fui amante de Fernando Pessoa e Manoel Bandeira. Até que de uma tacada só, caíram no meu colo cinco livros de chicklit: A modelo do Ano, de Carol Alt, Tamanho 42 não é gorda e Tamanho 44 também não é gorda (Meg Cabot) e Fazendo meu filme 1 – A estreia de Fani e Fazendo meu filme 2 – Fani na terra da rainha, grata surpresa da escritora mineira Paula Pimenta.
O desafio era fazer uma reportagem sobre o gênero para o jornal onde trabalho. Tinha tempo, pois seria uma matéria mais reflexiva. Eu já conhecia o chicklit do cinema, porque sempre gostei muito de comédias românticas no estilo Uma Linda Mulher ou O casamento do meu melhor amigo. Como adolescente e jovem adulta dos anos 90, devorei os filmes de P.J. Hogan e sempre me diverti muito com todos. Nunca os levei a sério a ponto de querer na vida real um relacionamento de sonho como os do cinema, mas sempre me entreguei feliz àquele mundo de ilusão tão colorido, leve e despreocupado. Realidade e sonho sempre foram dois lados da mesma moeda para mim e graças talvez, à educação que recebi, sempre transitei de um lado para o outro sem traumas. Dos amores que tive, esperei apenas o que eles eram capazes de me dar e quando não era mais suficiente, a culpa não estava nas comédias românticas de Hollywood ou em Madame Bovary, apenas era hora de começar de novo, em outro lugar.
Com espírito aberto, me joguei no chicklit na sua versão literária. Li com um prazer indescritível os cinco livros que a editora do jornal colocou na minha mão. Já tenho de olho outros títulos do gênero, para saborear durante as férias. Os clássicos continuarão sendo os meus amores profundos e antigos, mas na minha estante agora também tem vaga para amores leves, de verão.
O mais interessante do longo processo de gestação da reportagem foi ter contato com pessoas fabulosas. Descobri no orkut comunidades inteiras dedicadas à “literatura de mulherzinha”, encontrei blogs como o da Juliana Steffens, que é mestra no assunto, tive a oportunidade de ser beneficiária da candura de Paula Pimenta, que gentilmente me concedeu uma entrevista. Encontrei prazer em ler textos acadêmicos que levam a questão do chicklit e da literatura feminina à sério e percebi que existem conexões deste estilo contemporâneo com as obras de Jane Austen, nos idos do século XIX.
Agora há pouco, enquanto tentava escrever este “making off” do meu contato com a chicklit, tocou o telefone. Era uma das minhas tias, que desde a adolescência, sempre foi leitora de romances femininos. Estava eufórica, tinha acabado de voltar da banca de revistas. Dizia-se emocionada por ver um gênero que ela tanto admira tratado com respeito.
Escrevo há 15 anos, já fiz todo tipo de reportagem, cobri de polícia à política, vi a vida e a morte na minha lida diária de repórter. Até já fiz muitos textos sobre literatura, sobre autoras do século XIX. Minha família se empolga, embora eu não seja nenhuma celebridade. Mas nunca vi uma reação tão intensa de uma das minhas tias por um trabalho meu. O telefonema de titia foi a cereja do bolo!
Parabéns pelo texto, muito interessante! Faz abrir as ideias…
Apenas uma pequena correção… “Agora há pouco”, no penúltimo parágrafo. Mas isso em nada diminui o trabalho! Obrigada
Obrigada, correção feita. Abs!
Olá, Andreia! Eu tenho um pouco de preconceito com esse estilo, mas o que venho fazendo é ler os blogs que tratam desse tipo de literatura, aos poucos, quero descobrir/entender melhor esse gênero. Adorei o seu texto, acho que me deu coragem para gastar alguns reais com chicklits….rs
Um beijo.
Pois é Francine, o Mar de Histórias trata de literatura como um todo, tendo não ter preconceitos, o máximo possível. De certa forma, o que Jane Austen, Emile Brömte e outras contemporâneas faziam no seu tempo era “chick lit”, se formos traduzir esse gênero como literatura feminina. A diferença é que naquela época a sociedade, a cultura e a educação das mulheres era outra. Beijos, Andreia