BRONCA 1:
Castelo Garcia D´ávila e axé!
Chego do plantão neste domingo, por volta das 23h30 e resolvo comer uma coisinha. Ligo a TV para ter companhia, já que todos dormem no “reino encantado da Vila Laura” e eis que a vinheta de um programa local anuncia um especial com os melhores momentos do Carnaval. Não sei se por masoquismo ou por preguiça de largar o sanduíche de queijo e ir buscar o controle remoto, que deixei sobre o sofá, decido assistir aos tais melhores momentos enquanto termino de comer. Eis que surge a apresentadora do programa, diante das ruínas da Casa da Torre, mais conhecida como Castelo Garcia D´ávila, construção do século XVI situada na reserva da Sapiranga (santuário ecológico) em Praia do Forte, município de Mata de São João. A câmera desvia da apresentadora e mostra estrelas do axé pouquíssimo a vontade, sentadinhas em cadeiras praieiras, no meio das ruínas do que deve ter sido a sala de visitas do senhor da Torre, quase cinco séculos atrás. Estão ali para discutir os 25 anos do axé e os 60 anos do trio elétrico, na verdade, para avaliar se as homenagens às duas importantíssimas datas foram feitas a contento nos seis dias de folia momesca. “Oi!?” Alguém, por favor, traduza para mim, troque em miudinhos, interprete semiologicamente qual é a relação do castelo Garcia D´Ávila com os 25 anos do axé e os 60 anos do trio elétrico? Confesso que não entendi. E não entenderia nem se o tema do programa fosse o Entrudo, o antepassado do Carnaval trazido pelos portugueses para os lados de cá durante a colonização. Vejamos porque não entenderia (quem não tem paciência com aula de história, pode mudar de canal): Primeiro, embora a Casa da Torre seja uma construção do século XVI (período em que o Entrudo desembarcou das caravelas como herança cultural portuguesa), a função do castelo, além de servir de moradia para a família, os agregados e as cabeças de gado de Garcia D´Ávila, que dizem as más línguas, era filho bastardo de Tomé de Souza (o fundador de Salvador, primeiro governador geral e tal), também tinha a tarefa de vigiar a costa baiana, daí a torre, contra a pirataria. Em segundo lugar, o castelo, quando foi erguido na base do trabalho escravo indígena, argamassa com óleo baleia e cal de concha, estava enfiado no meio do mato, longe dias e dias – em viagem a cavalo – da sede do governo (Salvador), onde o Entrudo desembarcou meio timidamente. Até porque, nos primeiros anos da construção de uma cidade e pacificação (extermínio) dos tupinambás aqui residentes e até então, donos do pedaço, duvido que Tomé de Souza tivesse botado o bloco na rua. Os historiadores do Carnaval atestam que a festa só fica mais forte – na capital – nos séculos XVII e XVIII; fica muito violenta no começo do século XIX, sendo proibida pela igreja; e, é gradativamente substituída, ou seria transformada, no Carnaval de cordões e “blocos de sujo” que deram origem a nossa esfuziante festa do axé, já no finalzinho dos anos 1800 e comecinho do século XX. Entrudo na Casa da Torre?! Definitivamente, nunca ouvi falar e nem li em lugar nenhum (Se alguém conhece algum fato desse tipo, pode me dar um cala boca, que eu engulo a língua com todo prazer, mas quero provas documentais, ok?). Se os produtores da tv em questão queriam tanto fazer um link da axé music com a história colonial baiana, deviam ter economizado gasolina e ido gravar o programa no Paço do Saldanha, ali pertinho, no Centro Histórico de Salvador. O Paço, antes de virar sede do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, era a moradia da poderosa Joana Guedes de Brito, uma sinhá que adorava dançar no terreiro, nos batuques.
BRONCA 2:
Marketing governamental
A outra pergunta que não quer calar é a seguinte: Desde quando segurança pública deixou de ser obrigação do Estado e passou a ser um favor, esmolinha, concessão, benesse desse ou daquele governador? Porque na minha modesta opinião de eleitora, nada justifica a propaganda descarada do Governo, ao exibir, tal qual em dia de quermesse, a novíssima, tinindo de tal brilhante, frota de veículos comprados com o dinheiro dos impostos que nós cidadãos pagamos, para o aparelhamento das polícias civil e militar da Bahia, com o adendo de estarem acompanhadas de uma faixa de propaganda com os dizeres: ‘Segurança se faz assim”. De novo apelando para o sarcasmo nietzschiano: “Oieeee!!?” Se faz assim como cara-pálida?! Usando o dinheiro público para aparelhar a segurança pública? Usando o dinheiro dos nossos impostos para garantir que a polícia chegue aonde for chamada sem a desculpa de que não tem carro, não tem gasolina, não tem colete, não tem armas e não tem munição? Isso aí é uma prestação de contas do tipo: “prezados cidadãos, vejam que estamos usando seu dinheiro para a finalidade para a qual vocês votaram na gente?” É para que ninguém resolva investigar as cuecas dos nossos governantes após o escândalo do DEM no governo de Brasília? Definitivamente Seu Governador, o senhor não fez mais que a obrigação. Pena que só lembra disso em ano de campanha eleitoral. E, por favor, militantes, não percam tempo me dizendo que o governo anterior também fazia marketing descarado, porque foi justamente para ter uma perspectiva diferente das coisas que nós, cidadãos baianos, votamos no governo atual. No fim das contas, a bronca só serve para comprovar a teoria de que oposição no Brasil é quem está fora do poder, não importando de que partido seja. Na hora que toma posse da casa: “farinha pouca, meu pirão primeiro”!
Seu professor era um homem sábio, Fernando.
aproveitando o gancho de história, me lembrei de uma frase de um professor que tive nessa matéria: “não existe nada mais de situação do que oposição no poder e nada mais oposição do que situação fora dele”.