A expressão que nomeia este post, aí acima, corre o risco de cair no esquecimento. As sociedades protetoras dos animais não querem mais saber de jegue na passarela das festas populares baianas. Entendo os dois lados da questão, tanto quem defende a permanência dos animais em cortejos como o do Bonfim e a Mudança do Garcia (na segunda-feira de Carnaval), quanto quem defende a retirada deles das festas.
Quem defende a permanência, geralmente sente nostalgia de um tempo em que as ruas de Salvador não eram asfaltadas e “enfeitar o jegue para a lavagem” era uma questão de ludicidade e status – quem tem o jegue mais vistoso do desfile, quem é o mais criativo. Não é que essas pessoas não queiram o progresso da cidade e achem que a Salvador dos anos 50, sem saneamento básico, por exemplo, era perfeita. Não é isso, o que os defensores do jegue na passarela querem é que a cultura não seja esquecida, já que Salvador, cidade de origem colonial (no que isso tem de bom e de ruim), tende a esquecer-se do passado, menosprezar o presente e construir um futuro fake e Frankenstein, neo moderno e ainda desigual, sem harmonia com a memória histórica. O que essas pessoas não querem é esse progresso rapineiro que nos assola, que sai destruindo todo tipo de tradição cultural, toda paisagem, toda beleza que pode ser preservada junto com a melhora da infraestrutura urbana da capital. Um casamento trígamo – e harmonioso – entre o ontem, o hoje e o amanhã.
Já as ongs que defendem a proteção dos jeguinhos, querem tirar os bichos do sol à pino, evitar que sejam explorados em desfiles em pleno asfalto quente, onde suas patas não andam muito bem, onde o calor os maltrata. É louvável, afinal, não deixa de ser um castigo para esses animais puxarem carroça no chão escaldante, mas há que se lembrar que na Salvador desigual, ainda existe transporte de mercadoria por tração animal em muitas regiões mais pobres da cidade. E o que vai ser do ganha-pão dos carroceiros? A luta ambiental, que eu valorizo muito, em certos momentos é meio ingênua e até fundamentalista, pelo menos alguns grupos são, pois não avaliam que nós, os bichos humanos, também fazemos parte do ecossistema. Para mim, existem problemas sócio ambientais mais urgentes do que impedir cortejos que só ocorrem uma vez no ano. A pesca com bomba na Baía de Todos-os-Santos, por exemplo, merecia mais ação das ongs.
Há ainda os que argumentam a sujeira nas ruas. Que os jegues e cavalos da polícia montada sujam as ruas, é fato. Mas o trio do Bell Marques fez o mesmo tipo de sujeira durante a folia deste ano e ainda assim, ano que vem ele estará desfilando na avenida novamente.
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P.S.: “Você está parecendo um jegue de lavagem”. Segundo a professora Celina Abbade, autora de “Ó PAI Ó E OUTRAS PARTICULARIDADES DO LÉXICO BAIANO”, diz-se quando referindo-se a alguém que exagerou no visual, está usando mais acessórios do que recomenda o bom-senso. Alguém que carregou a mão nos penduricalhos e ficou meio parecido com uma “árvore de natal”.
Como sou nordestina, prefiro o “jegue de lavagem”.