O espelho revela à Aparecida que ela é outra pessoa. Acordou e se deu conta de que uma outra habitava seu corpo. A pele, o cabelo meio grisalho, as bolsas inchadas embaixo dos olhos, uma papada sob o queixo, nada disso lembra a moça radiante de outrora. Aparecida não tem muita certeza de onde se perdeu e nem quando foi que essa outra invadiu o seu corpo. No espelho, a outra retribui o olhar, um olhar cansado, de quem viu bem mais do que a vida tinha a mostrar. Aparecida lembra de Cecília Meireles: “Eu não tinha este rosto de hoje”…”Em que espelho ficou perdida a minha face?” A porta do quarto se abre e entra o menino. Ainda sonolento, arrasta os pés, resmunga que está com fome, olha para ela com olhos remelentos e embaçados, sorri e solta um beijo na ponta dos dedos. Aparecida descobre onde se encontrar.