Tereza descobriu que de tanto andar de cara amarrada, uma ruga de expressão se aboletou bem ali, no meio da sua testa tão lisa. Ultimamente, Tereza tem rido pouco, tão raramente, que até sente dor ao mover os lábios em direção a um sorriso. Os cantos da boca estão secos, o sorriso de Tereza, tão bonito em outros tempos, emperrado como porta sem óleo nas dobradiças. Mais dois vincos se formam nos cantos da boca, como um desenho de palhaço triste, com a curva dos lábios para baixo. Ela anda num mau-humor, uma impaciência, aquele cansaço infinito, a vontade de dormir que não a deixa, os olhos já se fecham sozinhos. Janelas com as cortinas eternamente cerradas. O problema é que aparentemente não há motivo para nada disso. Aparentemente. São os motivos escondidos, os que ficam na sombra, que Tereza teme.