"O caderno de Rosário"

Rosário pegou a mania de fazer listas. Em um caderno de capa amarela, registrava as coisas que fazia na vida, tudo listado. Todos os filmes que assistiu desde os 10 anos. Por que 10 anos? Porque a memória antes dessa idade é muito confusa. Todos os namorados que teve desde os 14. Decidiu que aquelas paqueras da escola entre os 12 e os 13 não entrariam, porque ela nunca conseguiu entender onde terminavam os coleguinhas de sala e começavam os namoradinhos. “Não tinha beijo na boca, então não era namoro”. Todos os sorvetes que tomou nos últimos 30 dias. Seria impossível registrar todos os sabores anteriores aos 30 dias de cada mês. Era mais fácil ir registrando mês a mês. No final de um ano – lógico! -, teria todos os sorvetes tomados em um ano e após 10 anos, saberia todos os sorvetes que tomou na década e podia até separar por sabores e calcular as estatísticas, para saber que sabores ela repetia mais e quais, por sua vez, tinham chance de enjoar primeiro. Decidiu aplicar a lógica dos sorvetes aos ônibus. Eram quatro por dia, 22 dias do mês para ir e voltar do trabalho. Mas havia também mais dois extras, às terças e quintas, quando tinha aula na faculdade. Então terças e quintas eram seis ônibus. Não podia esquecer mais dois, para o cinema no fim de semana… Rosário percebeu que suas listas viravam gráficos e complexas equações. Lembrou que odiava matemática com todas as forças desde bem nova. E o caderno amarelo ficou abandonado no fundo de uma gaveta. Agora ela escreve receitas, em um caderno azul…

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