Missa. Domingo, 8h da manhã. O menino inquieto, na expectativa pela hora de receber a sua primeira hóstia. Em casa, antes da saída para a igreja, a mãe advertiu: “hoje é a sua primeira comunhão, precisa ficar atento à missa, fazer direitinho tudo o que a professora do catecismo ensinou. Não pode conversar e nem ficar cutucando os colegas”.
Calor na igreja, o padre falando, um sono, as pálpebras pesadas e nada da tal da hóstia. A professora explicou que a homilia é o sermão do padre, quando ele conversa com os devotos, transmite uma mensagem para as pessoas refletirem. O padre fala, fala, fala… e o menino não entende bem o que ele quer dizer com ‘sexo só dentro do casamento’, que ‘prevaricação é pecado’. Se conseguir lembrar depois da missa, o menino vai olhar no dicionário o que é prevaricação, “palavra danada de grande, boa coisa não deve ser”.
O tempo escorre lentamente, a missa parece eterna, difícil não se distrair olhando as pinturas do teto, “os anjos estão todos pelados!”, o menino engasga, aperta o riso, bem na hora que um dos colegas chama atenção para o “pipi” do anjo. De esguelha, olha para a mãe, a cara vermelha de vergonha. Ela está ali concentrada no sermão,”deve saber o que é prevaricação”, porque balança a cabeça concordando com o padre.
Distraído, nem percebe a hora em que a hóstia é estendida para ele. Sobressalta-se, faz o gesto que a professora ensinou, abre a boca, “não pode mastigar”, adverte para si mesmo.
Saem todos os meninos em fila, vão para junto das famílias, carinhas compungidas,”igualzinho a professora disse que era para fazer”, olhando para o chão, sentindo o peso do castigo divino em almas que nem sabem o que é pecar.
Fim da obrigação dominical, os devotos saem da igreja conversando, decidem o que vão fazer para aproveitar o dia de folga, quem precisam visitar, onde almoçar…
A mãe, emocionada, pergunta: “E então meu filho, gostou de comungar”? O menino sacode os ombros, decepção na voz: “É, foi legal, mas a hóstia não tem gosto de nada… bem que podia ser de chocolate”…
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