Demorou, mas acaba de nascer outro trecho das aventuras do príncipe Rajá, minha novelinha infanto-juvenil. Para quem acompanha a série, segue abaixo os novos desafios enfrentados pelo aguerrido herdeiro do trono da Cidade de Ouro e Prata. Quem está acessando hoje pela primeira vez, no final do post há os links para todos os capítulo anteriores. Aproveitem!
XIV – O Deserto de Sal
Os inlus viviam em tendas no Deserto de Sal. Eram muito pequenos e tinham a pele grossa, para resistir ao sol forte. A vida na comunidade inlu era muito tranquila, ou melhor, era quase sempre muito tranquila. O povo do céu, que morava no alto das Montanhas do Nunca Mais, vivia em guerra contra o povo da areia, os inlus do Deserto de Sal. Durante as guerras, a vida não era nada fácil naquela região árida.
O príncipe Rajá chegou ao reino dos inlus bem no momento em que eles se preparavam para outra batalha contra o povo do céu. O rei dos inlus, pequenino, gordinho e com uma barba branca que tocava quase os pés, era também o general do exército inlu. Bem no momento em que Rajá entrou nos domínios do povo de areia, o reizinho treinava arco e flecha com os seus comandados. Escolheram Rajá como alvo e atiraram centenas de flechinhas que foram se espetar no turbante e nas roupas do menino.
Embora fosse uma criança, Rajá era mais alto que os inlus. O inlu maior e mais forte de todos alcançava os joelhos do garoto. Diante da chuva de flechinhas, que caiam sobre ele como os minúsculos espinhos e pinicavam como picada de mosquitinhos invisíveis, Rajá tentou buscar abrigo, mas no meio do deserto, não havia muitas opções onde se abrigar.
– Ataquem o gigante branco e preto! – gritava o rei-general inlu.
Rajá tentava se aproximar do pequeno exército e explicar que ele não era um gigante branco e preto, mas para cada passo que o menino dava, nova chuva de flechinhas caia sobre ele. Enquanto avançava cautelosamente, com cuidado para não pisar nos inlus menores, ouvia o general berrar “atirem nos mil olhos azuis da criatura de duas cabeças. Atirem nos olhos que ficam na barriga do monstro”.
O príncipe da Cidade de Ouro e Prata, vestido com a túnica branca que a feiticeira da Lua Crescente havia lhe dado de presente, e que formava um belo contraste com sua pele cor de canela, pensava em uma forma de explicar que não tinha olhos na barriga, eram as pedras do seu cinto que reluziam ao sol forte. Muito menos possuía duas cabeças, o turbante é que estava sobre seus cabelos negros. Rajá tirou um lenço branco de dentro da túnica e agitou no ar, no gesto característico de quem pede paz. Ishtar, a feiticeira, havia ensinado a ele que sempre se valesse da diplomacia quando entrasse nos reinos que pretendia visitar. Como o palácio de Ouro e Prata, o reino de Rajá, nunca havia mantido relações com nenhum outro reino, diplomacia não era uma matéria que o menino conhecia profundamente. Mas estava se esforçando para ser educado e não fazer nenhum gesto brusco, que levasse os inlus a interpretar como um ataque do tal monstro de duas cabeças e olhos na barriga. Secretamente, Rajá ria da ignorância dos inlus. “No fundo, são parecidos conosco, lá da cidade de Ouro e Prata. Vivemos tão isolados que acreditamos que tudo o que vem do mundo exterior é um perigo terrível”.
Os inlus pararam de atirar por um breve momento, quando viram o lenço branco de Rajá agitando-se no ar, mas então, interpretaram o gesto do menino como um sinal para algum tipo de ataque inimigo. “Ele está chamando o povo do céu, está mostrando a eles onde nós estamos, atirem no monstro preto e branco!” – esgoelava-se o reizinho dos inlus.
Espantando pela falta de civilidade dos inlus, Rajá guardou o lenço branco novamente entre as vestes e correu para esconder-se atrás de uma grande duna de areia. A salvo das flechas, o menino recuperava o fôlego. Estava com sede e no seu odre só havia mais um golinho de água. A única fonte, porém, ficava no centro do Deserto de Sal, era o Oasis de Nem, cujo manancial nunca secava e de onde os inlus retiravam sua sobrevivência. O Oasis de Nem era o motivo pelo qual o povo da areia e o povo do céu viviam brigando.
Do seu esconderijo atrás da duna, Rajá observava os inlus comemorarem a “derrota” do monstro. “Botamos ele para correr, pessoal!” – berrava o rei-general. O menino não poderia ficar escondido muito tempo atrás daquele monte de areia, sua água estava no fim e a comida também. Ele precisava encher o odre no Oasis de Nem e também pensara em pedir permissão aos inlus para colher algumas frutas e seguir viagem. Não havia muita coisa para ver no Deserto de Sal, só areia e mais areia, ele não pretendia ficar muito tempo naquela região, mas como passaria pelos ferozes guerreiros em miniatura que guardavam a entrada do Oasis?
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Leia os outros capítulos da história:
>>Capítulo I: A cidade de ouro e prata
>>Capítulo II: A vida doce dentro das muralhas
>>Capítulo III: Uma gaiola dourada e um passarinho triste
>>Capítulo IV: O sinistro mago Islamal
>>Capítulo V: O pedido de Rajá
>>Capítulo VI: O plano de Islamal
>>Capítulo VII: Aprendiz de hipnotizador
>>Entre capítulos: Carta de Rajá aos pais
>>Capítulo VIII: A Floresta Sem Fim
>>Capítulo IX: A língua universal
>>Capítulo X: A feiticeira da lua crescente
>>Capítulo XI: O rei destronado (parte 1)
>>Capítulo XI: O rei destronado (parte 2)
>>Capítulo XI: O rei destronado (final)
>>Capítulo XII: A rainha prisioneira
>>Capítulo XII: A rainha prisioneira (parte 2)
>>Capítulo XII: A rainha prisioneira (parte 3)
>>Capítulo XII: A rainha prisioneira (final)
>>Capítulo XIII: O aprendiz da feiticeira
>>Capítulo XIII: O aprendiz da feiticeira (parte 2)
>>Capítulo XIII: O aprendiz da feiticeira (final)
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Estou na luta pra chegar lá meu querido!
Um grande beijo
Um dia ainda quero ter a supresa de chegar em uma livraria e encontrar isto impresso em um belo livro, Andreia.