A primeira vez que ouvi essa palavra fiquei matutando sobre como uma coisa pode ser ao mesmo tempo tecno (prefixo geralmente associado a tudo o que é cool, pós-moderno e contemporâneo) e brega. Daí, um dia, na aula de Ética e Direitos Autorais da pós-graduação, meu professor nos mostrou um vídeo sobre a explosão desse ritmo, que faz muito sucesso no chamado circuito alternativo popular. Não é meu estilo de música. Não compraria um CD de tecnobrega. Mas se quiser me tornar uma pesquisadora isenta de (pre)conceitos, terei de deixar o meu gosto musical em casa, para as minhas horas de fruição e prazer pessoais, ou compartilhados com amigos e afins. Posso também trazê-lo para o blog, como nas inúmeras citações de amor confesso à música cubana, a Loreenna Mckennit e ao REM. Mas, para além dos meus espaços privados (reais ou virtuais), existe o mundo dos ritmos, que é bem maior que a minha casa. E não se trata de transformar o que eu não gosto em um objeto que vou olhar de cima, com aquele distanciamento de intelectual descolado que abre uma concessão em estudar as manifestações dos mortais comuns. Com um outro professor, aprendi recentemente que “gosto se discute”, mas não no sentido de desqualificar o gosto alheio em detrimento do meu. Um olhar isento e ao mesmo tempo crítico é um equilíbrio muito difícil de encontrar e um exercício diário. Na tentativa de manter a lição de casa em dia, trago para cá os links do documentário sobre o tecnobrega. Aos leitores mais radicais e menos propensos a esse tipo de exercício de experimentar o outro sem dar-lhe a pecha de exótico, aviso que o tecnobrega, em uma comparação rasteira (corro o risco de levar bronca na próxima aula pela comparação apressada e leviana) é um tipo de primo pobre do pagodão baiano.
Tecno brega – Boa Cópia, Má Cópia
Tecno brea – Boa Cópia, Má Cópia – Parte II
Caramba, adorei o vídeo/documentário! Pude conhecer coisas que não sabia e abrir a visão a respeito do ritmo.
Eu li 10% do livro “Microfísica do Poder”, de Michal Focault, mas mesmo assim consegui aprender algo interessante que procuro carregar comigo: que o papel do intelectual há de se modificar.
Ao invés de assumir uma postura de “estar no poder”, de superior, e daí determinar aos “inferiores” o que é a verdade, o certo e o errado, ele deve sim utilizar de sua posição de poderio para abrir espaço para essas outras comunidades falarem de si. Portanto, atenção ao tecnobrega!
E só para contribuir. É bom lembrar que o próprio jazz, ritmo originalmente negro que chegou aos EUA, sofreu tanto preconceito quanto o arrocha mais no início (e ainda hoje), e o tecnobrega agora, por parte da galera elitizada e/ou que se diz intelectual; e que hoje é venerado pela intelectualidade. É até chique e pomposo dizer que gosta e ouve jazz.
Enfim, já falei demais!
Grande Abraço!
Andreia
compreendo muito bem o que vc está falando. Eu olho pro tecnobrega com uma visão crítica, isenta (na medida do possível, é claro) e cultural. A meu ver, na minha modestíssima opinião de mero observador e apaixonado por música e cultura em geral, o tecnobrega é um filho legítimo da nossa capacidade de fusão artística e musical. É uma renovação do conceito de antropofagia e do tropicalismo; claro, os intelectualóides torcem o nariz, mas o tecnobrega, assim como o Arrocha, são ritmos autenticamente brasileiros, populares, feitos do povo e para o povo. É legítimo e tem seu lugar na história. Adoro!!