Promessa é dívida e para os leitores que gostam de literatura, abaixo a sinopse dos livros Vinte Mil Léguas Submarinas, Viagem ao Centro da Terra e A Volta ao Mundo em 80 Dias, todos de Júlio Verne. No final do post, uma minibiografia do escritor francês. A promessa foi feita neste post aqui, quando redescobri o prazer de viajar através da imaginação do autor. Subam à bordo e aproveitem!
Vinte Mil Léguas Submarinas
O capitão Nemo tem fama de ser um dos personagens mais enigmáticos da literatura. Comandante do submarino Nautilus, era homem de poucas palavras e muita ação. Alguém que, devido a uma grande decepção, corta laços com a humanidade e endurece o coração. Verne o descreve como autoritário, quase um tirano; frio, do tipo que não deixa transparecer emoções; e cercado de segredos. Viajando a bordo do Nautilus estão o naturalista Aronnax, o criado Conselho e o arpoador Ned Land, que ora se sentem fascinados pelo capitão, ora o desprezam. Ninguém fica impune ao capitão Nemo, um homem cheio de nuances psicológicas. Aronnax, Conselho e Ned vão parar dentro do submarino por acaso. Após um naufrágio, eles são salvos pelo capitão Nemo, mas o preço é alto, uma vez a bordo da estranha embarcação, jamais poderão sair de lá novamente. São prisioneiros, mas tratados como hóspedes, e junto com o capitão Nemo e sua tripulação, viverão aventuras incríveis no fundo do mar e na costa de países exóticos, onde o submarino faz paradas ocasionais. Para o leitor de hoje, muitas das paisagens descritas por Verne podem parecer exageradas ou pouco condizentes com a realidade. Mas vale lembrar que o livro é do século XIX, quando ainda existiam terras por explorar, locais onde o europeu burguês do período acreditava viverem todo tipo de gente exótica. O que fugia do padrão europeu e cristão do período era exótico, estranho e bárbaro. O importante ao ler a obra de Verne é ter consciência de que, embora fosse um visionário que deduziu com precisão científica diversos avanços tecnológicos e levou o homem à lua um século antes de Louis Armstrong pisar no satélite espacial, o escritor era um homem do seu tempo e suas crenças, a educação recebida e as leituras que fez na vida, transpareciam em alguns dos conceitos defendidos em suas obras.
Existem diversas adaptações de Vinte Mil Léguas Submarinas. Desde a edição de bolso com texto integral da Martin Clarit, até a edição de luxo da Bertrand, passando pela obra que eu li recentemente, a adaptação da coleção Larousse Jovem. Não é um livro dificil de encontrar nas livrarias ou pela internet. No cinema, Vinte Mil Léguas Submarinas foi adaptado em 1954, pela Disney, com Kirk Douglas no elenco. Em janeiro deste ano, a Disney anunciou que faria o remake do filme. O capitão Nemo também aparece na adaptação da série em quadrinhos A Liga Extraordinária, para o cinema, mas apesar do grande elenco reunido, esse filme fica aquém da força dos personagens.
Viagem ao Centro da Terra
Se ao ler a obra original de Verne você espera encontrar uma história igual a do filme recentemente lançado e estrelado por Brendan Fraser (da série A Múmia), esqueça. Embora o filme cumpra a função de entreter, principalmente o público mais jovem e ávido por efeitos especiais, por outro comete tantas licenças poéticas com a obra de Verne que é melhor separar as duas coisas. O filme é, de leve, inspirado no universo verniano. O livro Viagem ao Centro da Terra conta a história do professor Lidenbrok, um cientista genial, mas arrogante, e de seu sobrinho Axel, o narrador da história, que também é cientista, só que mais ponderado e em alguns momentos hesita tanto antes de tomar uma decisão que beira a covardia. A história é antes de mais nada um duelo de personalidades entre esses dois homens, como tão bem descreve Wellington Andrade na apresentação da obra para a coleção Larousse Jovem. Axel e Lidenbrok encontram um manuscrito do século XVI, que descreve uma jornada ao centro da Terra. Os dois então partem para a Islândia e lá contratam o guia Hans, um homem de poucas palavras e muita ação – esse tipo de personagem enigmático, silencioso e decisivo permeia toda a obra do escritor. Os três seguem o caminho descrito no manuscrito e entram num vulcão extinto, viajando por galerias subterrâneas até a descoberta de um novo mundo escondido nas entranhas da Terra. A amizade entre os três homens, suas reações às descobertas e aos perigos enfrentados, o ajuste de contas entre o sobrinho covarde e o tio audacioso são o gancho central da obra. As maravilhas da botânica, biologia e geologia encontradas no interior do vulcão servem como pano de fundo para que Verne ressalte os valores que de fato importam. Amizade, lealdade, honra – mais uma vez vale lembrar que estamos no século XIX, quando a palavra do cavalheiro valia mais que toda a sua fortuna – são tão importantes na obra do autor quanto as descrições detalhadas de máquinas e mundos por descobrir.
Assim como Vinte Mil Léguas Submarinas, Viagem ao Centro da Terra não é um livro difícil de encontrar tanto na versão integral quando em adaptações infanto-juvenis. Diversas editoras já lançaram a obra em português. É escolher a que mais agrada e partir para a viagem. No cinema, o livro de Verne já teve uma adaptação da Twenthy Century Fox de 1959 e o filme recente, da New Line, estrelado por Fraser. A obra de 1959 é uma adaptação literal da obra, com os mesmos personagens do livro. Já o filme recente é inspirado na obra, mas com roteiro diferente. Como se fosse uma forma de reapresentar Verne aos jovens da era digital. Brendan Fraser vive um geólogo que encontra uma antiga edição de Viagem ao Centro da Terra que pertenceu ao seu irmão e, desconfiado de que o irmão tenha seguido as indicações de Verne na obra, parte para a Islândia. Lá, além de viver aventuras mirabolantes dentro de um vulcão, ele conhece uma guia de montanhas, por quem se apaixona.
A Volta ao Mundo em 80 Dias
A narrativa ágil de Júlio Verne encontra seu desenvolvimento máximo em A Volta ao Mundo em 80 Dias, livro que ele publicou em 1873. A obra conta a história de um cavalheiro inglês chamado Phileas Fogg, cuja fortuna e a vida é um grande mistério. Britânico ao extremo – o que quer dizer que Fogg é o estereótipo do homem fleumático, metódico e pontualíssimo – o cavalheiro leva uma vida quase monótona. Segue horários rígidos e um programa diário que inclui passar longas horas lendo jornais – ele cronometra o tempo que leva na leitura de cada períodico – e jogando no clube de cavalheiros mais exclusivo da cidade. Ninguém sabe de onde ele veio, de quem herdou tamanha fortuna, o que sente ou pensa. Fogg não tem amigos, não é casado, não tem família. É o protótipo do lorde inglês antipático e tradicional, seguidor da etiqueta do cavalheirismo, mas incapaz de um gesto que demonstre que é humano. Mas, um dia, decide apostar com os outros cavalheiros do clube a soma de 20 mil libras, afirmando que conseguiria dar a volta ao mundo em 80 dias. Ele parte com o criado francês Passepartout, que é o extremo oposto do patrão: visceral, passional, desesperado, confuso, apaixonado, aventureiro. Durante a viagem, os dois vivem toda sorte de aventuras, desde salvar uma jovem princesa indiana prestes a ser morta num sacrificio para a deusa Kali, até uma troca de tiros e flechadas entre índios sioux e a cavalaria americana no velho oeste. Para dar um molho à história, se é que precisa, porque só as agruras de Passepartout já renderiam um livro à parte, Verne coloca no encalço de Fogg um obsessivo detetive da polícia de Londres, o Sr. Fix, que está a caça de um ladrão de banco que roubou 55 mil libras e cuja descrição coincide com a do excêntrico cavalheiro. O dilema é saber se Phileas Fogg é só um milionário lunático ou um perigoso assaltante. O mais interessante é ver que o comportamento do personagem não se altera por pior que seja a situação vivida. Phileas Fogg é irritantemente calmo. O leitor se desespera tanto quanto Passepartout, rói as unhas sem ter certeza se o cavalheiro vai ou não ganhar a bendita aposta, se ele é ou não o perigoso assaltante, e Phileas mantém o tempo todo a máscara de indiferença. Acredito que Verne deve ter se divertido muito imaginando o tipo de reação que um personagem tão enjoado quando Phileas Fogg causaria nos leitores. Pior, ele transforma o menos carismático dos homens no herói central da narrativa, é de enlouquecer, mas é genial.
A Volta ao Mundo em 80 Dias foi publicado pela Ediouro, com tradução e adaptação de Paulo Mendes Campos. O livro também é encontrado em edição da Martin Claret e em versão PDF para baixar da internet (clique aqui para acessar) pela VirtualBooks. No cinema, o livro já foi adaptado em 1956. Com Shirley MacLaine vivendo a princesa indiana Aoula, essa versão ganhou cinco oscars. Em 2004, Jack Chan também produziu uma adaptação da obra e viveu o personagem Passepartout. Nesse filme, não faltam lutas marciais, no melhor estilo de Chan, elementos de comédia pastelão e um desfile de astros e estrelas de Holywood vivendo personagens da história que são encontrados por Fogg em sua jornada pelo mundo.
Quem é Júlio Verne
Julio Verne nasceu em Nantes, na França, em 8 de fevereiro de 1828. Era filho de uma família burguesa, com tradição de formar advogados e aos vinte anos, ele se mudou para Paris para estudar Direito. A infância de Verne foi cercada de aventura, pois era ávido leitor de Daniel Defoe (Robinson Crusoé), Jonathan Swift (As Viagens de Gulliver), James Fenimore (O últimos dos Moicanos) e Edgar Allan Poe (Histórias Extraordinárias). Não é de admirar que a com a cabeça povoada de sonhos e morando na efervescência de Paris, o jovem Verne trocasse o Direito pela Literatura. Principalmente porque em Paris, ele conheceu ninguém menos que Alexandre Dumas, Honoré de Balzac e Vitor Hugo. A partir de 1850 ele passa a viver exclusivamente do que escrevia, produzindo peças teatrais, além de contos e novelas publicadas em periódicos parisienses. Empolgado com a ciência e fascinado pelas descobertas tecnológicas do século XIX, ele inicia a produção dos seus livros mais famosos, todos versando sobre viagens incríveis a lugares nunca antes alcançados pelo homem, como a lua. Autor incansável, Verne escreveu 70 obras, sendo que as últimas, no alvorecer do século XX – ele morreu em 1905 – já traziam um certo desencanto e decepção com o rumo de algumas invenções humanas.