Me enoja que diante da emergência da chuva em Salvador, os partidos políticos que comandam governo do estado e prefeitura usem a tragédia de tantas famílias como moeda de troca eleitoral. O imbróglio é bem confuso mesmo. O ministro da integração nacional não é do mesmo partido do presidente, mas o apoia. O governador do estado é um homem do presidente e comunga no mesmo partido, mas é adversário do ministro. O prefeito, esse é um marionete coitado, está no mesmo partido do ministro, mas tem de ficar quietinho, esperando os cachorros grandes terminarem de decidir para onde vai o dinheiro. O resto é mise-en-scène para render manchete de jornal: “ministro sobrevoa a cidade devastada pelo temporal”; ” governador sobrevoa região metropolitana e promete ajuda aos desabrigados”; “prefeito é internado com alta de pressão e não pode acompanhar ministro em sobrevoo”. Deve ser remorso, por ter gastado tanto no Carnaval e deixado de fazer as tais obras emergenciais que esta cidade precisa desde que foi fundada no século XVI. Outro dia li no blog de um amigo o comentário de um leitor anônimo, dizendo que é necessário deixar o passado para trás e olhar o futuro. Na vida pessoal até pode ser, mas em se tratando de cidades e países, esquecer o passado é. no mínimo, desconhecimento histórico. Enquanto isso, mais de 100 famílias estão desabrigadas e outras centenas correm risco de morrer soterradas. Ouvi de um passageiro em um ônibus que as pessoas que moram nas encostas são teimosas e insistem em construir em áreas de risco. Me pergunto: e para onde essas pessoas vão? Alphaville? Vila Privillege? Horto Bela Vista, quem sabe? Com as áreas planas da cidade abrigando shoppings, é de se esperar que os miseráveis se amontoem ladeira acima e rezem para que suas vidas e poucos pertences não desabem encosta abaixo. E as promessas continuam, afinal, 2010 está aí…
Pois é Beto, e viva Cazuza!
E olha que tudo isto data, como você bem disse, do séc.XVI. E é exatamente por isso que o passado não pode ser deixado pra trás, caso contrário o presente fica orfão. Só que quanto mais eu entendo o passado, mas vejo que o presente é “um museu de grandes novidades”, Andreia.