XIII – O aprendiz da feiticeira (parte 2)
As lições do príncipe Rajá como aprendiz da feiticeira Ishstar tiravam a paciência do menino. Para começar, a feiticeira da Lua Crescente não ensinava nenhum truque mágico para ele. Suas tarefas consistiam em lavar pratos, varrer as folhas das árvores que caiam no pátio em frente à casa dela, buscar água no rio, preparar o almoço, alimentar a jiboia Hamida e meditar. Rajá não aguentava mais passar horas sentado, coluna reta, olhos fechados, meditando. O príncipe estava entediado, resmungava, praguejava, cortava os dedos com as facas da cozinha, chorava e dormia todas as noites, mortinho de cansaço. Um dia, ele não aguentou mais e foi reclamar com a feiticeira:
– “Eu vim para cá aprender lições de magia e descobrir maravilhas para levar até minha cidade e mostrar ao meu povo, mas tudo o que eu faço são as suas tarefas domésticas. Virei seu serviçal, seu empregado. Vou embora” – disse Rajá.
A feiticeira pousou seus profundos olhos verdes sobre ele, respirou fundo e perguntou:
– “Rajá, o que você acha que é a magia? Para que você acredita que ela serve?”
O príncipe foi pego de surpresa com a pergunta. Não tinha a menor ideia de para quê a magia servia e nem o que pretendia fazer com ela. Pensando bem, ele nem precisava de nada o que a magia poderia proporcionar e havia coisas que ela não podia lhe dar. Magia não servia, por exemplo, para trazer de volta pessoas queridas que já morreram, como os avós do menino; também não serviria – no caso dele, que era um príncipe – para conseguir riquezas, porque isso ele já possuia. Pensou bastante na resposta e seu rosto se iluminou com uma ideia. Ele respondeu:
– “Magia serve para explorar terras desconhecidas, viver grandes aventuras, lutar contra monstros e ser um grande herói”.
Ishstar balançou a cabeça, como quem está muito contrariada por ter de explicar uma coisa tão simples de entender, mas lembrando que seu aprendiz era uma criança que nem tinha 11 anos ainda, ela explicou:
– “Rajá, para explorar terras desconhecidas, viver grandes aventuras, lutar contra monstros e ser um grande heroi você precisa de coragem, imaginação, audácia e um pouquinho de falta de juízo, mas não precisa de magia para fazer nada disso. A magia não existe por causa dos truques de hipnotismo que o seu tio impostor ensinou! Magia é saber falar com a natureza, com as plantas, os bichos, o vento. Magia é entender porque o sol nasce e se esconde, é ouvir e ajudar os outros. A vida é um grande ato de magia da natureza, ninguém nunca te explicou isso!? Se você quer aprender truques para divertir os moradores do seu reino, não quer se tornar um sábio rei quando for mais velho, mas um bufão. Não precisa de mim para isso”.
A bronca de Ishstar deixou Rajá muito envergonhado. Naquela noite, o menino foi dormir pensando nos motivos que o levaram a sair de casa e viu que todos eram extremamente bobos, com exceção de um, a necessidade que ele tinha de conhecer o mundo e se tornar um rei tão justo quanto seu pai, só que menos ingênuo. Pensou no que tinha vivido na travessia da Floresta Sem Fim e viu que se quisesse entender as lições da feiticeira, teria de continuar sua viagem. Conhecer outros povos que habitavam o mundo real e não um palácio de sonho como era a Cidade de Ouro e Prata. Depois da Floresta Sem Fim, onde Ishstar morava, começa o grande Deserto de Sal, e era para lá que príncipe iria…
continua no próximo post
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Leia os outros capítulos da história:
>>Capítulo I: A cidade de ouro e prata
>>Capítulo II: A vida doce dentro das muralhas
>>Capítulo III: Uma gaiola dourada e um passarinho triste
>>Capítulo IV: O sinistro mago Islamal
>>Capítulo V: O pedido de Rajá
>>Capítulo VI: O plano de Islamal
>>Capítulo VII: Aprendiz de hipnotizador
>>Entre capítulos: Carta de Rajá aos pais
>>Capítulo VIII: A Floresta Sem Fim
>>Capítulo IX: A língua universal
>>Capítulo X: A feiticeira da lua crescente
>>Capítulo XI: O rei destronado (parte 1)
>>Capítulo XI: O rei destronado (parte 2)
>>Capítulo XI: O rei destronado (final)
>>Capítulo XII: A rainha prisioneira
>>Capítulo XII: A rainha prisioneira (parte 2)
>>Capítulo XII: A rainha prisioneira (parte 3)
>>Capítulo XII: A rainha prisioneira (final)
>>Capítulo XIII: O aprendiz da feiticeira
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Olá, Andreia, como vai? Sou um jovem de 62 anos, avô da Maria Teresa que tem 8. Comecei a reproduzir num caderno comprado especialmente, todos os capítulos dessa histório, e, até O Deserto de Sal, transcrevi. Depois desse capítulo, nada mais foi publicado e eu queria muito terminar a transcrição da história. Não sei se você já a tem pronta, mas, se não tiver, me dê uma previsão de quando terá, por favor.
Fico agradecido desde já… e porque não, ansioso, também com o desfecho da história, rsrsrs.
Parabéns.
Douglas
Oi Douglas,
Fico lisonjeada pelo seu interesse na história. Parei de postar As mil e uma aventuras do Príncipe Rajá aqui no blog porque pretendo concluí-la com mais calma e publicá-la também em forma de papel, se alguma editora se interessar. Então, enquanto trabalho no manuscrito, melhorando alguns trechos, reescrevendo outros, inserindo ou cortando coisas, não tenho postado ela aqui no blog. Criei essa história para colocar o meu filho para dormir e o engraçado é que ele nunca dormia antes de terminar o “capítulo” da noite, o que era para niná-lo acabava deixando-o acordado mais tempo, rsrsrs. Fiquei muito contente em saber que está transcrevendo a história para sua neta. Em breve, coloco mais alguns trechos no blog. Abraços!
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