Sonhar é bom, mas a vida real é mais confortável

Owen Wilson e Jennifer Aniston vivem casal às voltas com a carreira, três filhos e um labrador

Owen Wilson e Jennifer Aniston vivem casal às voltas com a carreira, três filhos e um labrador hiperativo

Finalmente uma boa comédia sobre o cotidiano ordinário, que não destila ironia ou dispara frases de efeito a cada cinco minutos. Marley e Eu, inspirado no livro homônimo do jornalista John Grogan (que por sua vez se inspirou na própria vida), conta a relação de uma família classe-média americana com o seu cachorro, um simpático labrador cujo apelido era “o pior cão do mundo”. Um filme sensível, sem grandes pretensões, não vai render Oscar para Owen Wilson ou Jennifer Aniston e muito menos para o labrador, embora ele merecesse.

O que me impressionou nesse filme a ponto de trazê-lo para dentro do blog: além da honestidade do tema, a sua simplicidade, até porque a vida é simples, complicados somos nós. Não li o livro, quando vi a capa certa vez numa livraria, tive preconceito. Achei que era auto-ajuda. Fiquei curiosa para ver o filme depois que uma amiga assistiu e indicou com o seguinte discurso: “Não sei se as meninas na faixa dos 20 vão gostar, mas nós, que passamos dos 30, com certeza temos de assistir. O filme fala de família, ou melhor, do quanto é complicado estar naquela idade entre os 30 e os 40, no auge da carreira, cheia de energia, e dar conta do nosso cotidiano, que inclui marido, filhos e frustrações”.

Então, não é sobre um cachorro e o seu dono? – perguntei, confessando minha ignorância completa sobre o tema do filme. “Que nada menina, é sobre um casal e todas as dificuldades pelas quais a gente passa quando decide juntar as escovas de dente. O cachorro é pretexto”. Ela me convenceu. Fui ao cinema. Fiquei surpresa que um filme tão simples, alguns mais exigentes diriam até meio boboca, conseguisse provocar tanta reflexão. Uma descoberta fantástica: No final da sessão, casais discutiam as cenas, comparavam com suas vidas comuns, ordinárias, nada parecidas com os arroubos das comédias românticas. Até porque, dizem os cientistas britânicos que comédia romântica faz mal para a cabeça e o coração.

POR UMA VIDA ORDINÁRIA SIM, OBRIGADA!

Você por acaso acorda de manhã disparando pérolas de sabedoria que deveriam compor um best seller? Eu, particularmente, não acordo. Para ser sincera, nas primeiras horas do dia apelo para o piloto-automático, reduz os riscos de erro e dá aquele conforto da rotina. Pois Marley e Eu fala justamente disso, do conforto da rotina, do quanto ela é um porto seguro, do quanto não podemos nos acomodar nela. Assistir ao casamento dos outros, de mentirinha, na tela, faz refletir sobre o nosso. Do arroubo da lua de mel às decisões simples como trocar a cor das cortinas ou ainda as mais complexas. “Vamos ter um filho?” “Que tal começar com um cachorro?” “Negócio fechado!”.

Espirituosidade, respostas rápidas, diálogos descolados, lançar-me ao mundo com audácia e valentia, pronta para conquistar o Everest…só depois das 10h. Boa parte dos filmes porém, mostram sempre esse tipo de atitude moderna, veloz, como se todos fôssemos assim o tempo inteiro, como se nunca ficássemos em dúvida com nossas escolhas, como se a vida fosse um eterno glamour. Como se a maternidade fosse aquele anúncio de shopping center em véspera do Dia das Mães. Como se não rolasse, de vez em quando, uma competição entre marido e mulher. Quem tem o salário melhor, quem está ascendendo na empresa e quem está ficando para trás? Principalmente quando os dois têm a mesma profissão.

Como cidadã comum, que acorda cedo, trabalha fora, cria filhos, quero o direito a pitadas de sonho hollywodiano de vez em quando, sonhar é preciso, mas quero também uma vida ordinária sim, obrigada! Ordinária no sentido de simples, tranqüila, aquela vidinha de casal que a parcela da humanidade que não vive em Beverly Hills e não ganha US$ 20 milhões por filme, vive.

Talvez por isso, minha amiga acredite que as moças (e os rapazes também, lógico, não podemos esquecê-los) na faixa dos 20 não vão gostar muito do filme. Certamente é lugar comum, até meio piegas em algumas cenas, mas a vida diária é cheia, abarrotada de lugares comuns. Se não fosse assim, nunca iríamos saber a diferença quando algo de fato extraordinário nos surpreendesse. E uma surpresinha de vez em quando, para quebrar a tal da rotina confortável, é tão bom…

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