
Se a Monalisa pode, nós também podemos
Fiquei esperando meus neurônios explodirem e se abrirem em grandes e brancas flores de pipoca. “Nalva, esse secador está fritando meu cérebro!!”. A resposta, depois de um muxoxo: “Que nada, você não é ‘macho’ não?”. Deu vontade de responder que não era, nem anatômicamente e muito menos psicologicamente. Mas, suspirei e tentei pensar em paisagens geladas. “Não estou num salão de beleza, estou na Sibéria. Esse barulho no meu ouvido não é o secador, mudei de paisagem, estou diante de um mar revolto, assisto ao balé das ondas e seus golpes marciais em um rochedo. Esse cheiro de pelo de cachorro queimado não é o meu cabelo. Voltei no tempo, é uma cerimônia tribal, estão queimando juba de leão para dar força e valentia na próxima caçada…” Pausa nos meus devaneios provocados pelo cheiro de produto químico – é a tal escova inteligente – não quero nem saber o que tem dentro dessa fórmula! A voz de Nalva. “Pronto chorona, acabou. O cabelo tá lisinho, lisinho…” – Susto diante do espelho: “uau, virei a Mariana Ximenes, só que morena!” Penso em Rita Lee, “mulher é um bicho esquisito, todo mês sangra”, cantarolo e concordo. Mulher é mesmo um bicho esquisitíssimo, não importa se é a perua que aparece nas colunas sociais ou a pseudo-escritora-jornalista, quase todas, vez por outra, derrapa para um destino comum: a chapinha. Os motivos podem variar. O da perua, provavelmente tem relação com lábios a la Angelina Jolie e seios de Pamela Anderson. Os meus (motivos, não seios), a praticidade dos cabelos curtos e lisos. Lavou, sacudiu, estou pronta para mais um dia na redação. Ficar parecida com a Fátima Bernardes?! Hummm, eu queria era o salário dela. “Mentira, tem outro motivo” – me diz a voz do Al Pacino em Perfume de Mulher: “Toda vez que uma mulher muda o próprio cabelo alguma coisa mudou dentro dela”. É verdade, alguma coisa mudou dentro de mim. Alguma coisa que só eu e um colega de trabalho percebem: “Você mexeu no cabelo!” – Engraçado ele dizer isso, homem geralmente não repara em detalhes desse tipo. A explicação é biológica e antropológica. Os homens tem a visão abrangente, as mulheres, por sua vez, possuem a capacidade de enxergar nas entrelinhas. Como tudo na vida, a chapinha aponta para uma só direção: autoestima. Tem dias que você se olha no espelho e diz, olá belíssima, pronta para encarar mais um dia? Vai agarrar touros à unha? Rir na cara das pautas mais difíceis? Responder as indagações do seu chefe com perspicácia e uma sagacidade de dar inveja? Outros dias, sem piedade nenhuma, é o espelho quem diz, sem a menor cerimônia, “volte para a cama e não saia de lá até a próxima lua cheia”. Autoestima é o que leva as mulheres ao salão de beleza. Ao inferno, literalmente, da chapinha, quente como a morada de belzebu! Ou do babyliss, se a intenção é cachear. O desejo de sentir-se bem consigo mesmas. Chamar atenção de meia dúzia de rapazes na rua é só uma consequência, mas a briga real é com o espelho, todas as manhãs. “Quero ver você me mandar de volta para a cama agora, seu maldito! Com este cabelo, eu conquisto o mundo!”.