O problema das segundas-feiras é um só: elas existem! E quem achar que é queimação de filme colocar no orkut ou no nick do msn a célebre frase do Garfield “I hate mondays!” dá atenção demais aos livros de autoajuda, daqueles que trazem fórmulas milagrosas e ensinam como ser um bom líder e vencer na vida. Ou ainda, presta mais atenção do que devia ao bla bla bla dos consultores de RH. Se tiver algum consultor de RH lendo, não leve para o lado pessoal. Mas é que na faculdade, na seleção de emprego e nos manuais de como impressionar seu futuro chefe na primeira entrevista, nos ensinam a maior mentira de todas, dizem que odiar as segundas-feiras é uma coisa ruim. Uma vez um professor na sala de aula chegou a ameaçar que os serviços de recursos humanos vetam candidatos a emprego que participam de comunidades no orkut chamadas odeio acordar cedo ou odeio segundas-feiras. Pior é que é verdade, algumas empresas vetam mesmo.
Acontece que odiar as segundas-feiras é uma das características mais humanas que temos. Quase todo mundo que é sensato odeia as segundas-feiras, embora tenha de conviver com elas, porque infelizmente, não inventaram ainda um jeito de riscá-las do calendário. O domingo é o dia mais deprimente da semana justamente por culpa da segunda-feira, que vem logo depois. As pessoas mentem quando dizem que adoram segundas-feiras, que adoram esquecer que no fim de semana elas estavam em casa, por exemplo, lendo um bom livro, assistindo vários DVDs legais. Ou então, que foram à praia, ao parque, ao boteco, até a casa da namorada (o) quando os pais dela / dele não estavam em casa; ou ainda, que se deram o direito de não fazer absolutamente nada. Nesses tempos velozes e furiosos, sem trocadilho com o blockbuster, não fazer nada parece sacrilégio, ofensa das mais graves! Pois reivindico meu direito a não fazer nada quando me der na telha, mesmo precisando trabalhar para pagar as contas.
Lamento pela nossa sociedade e pelos serviços de RH que monitoram comunidades no orkut, tentando prever um futuro funcionário relapso só porque ele não gosta das segundas-feiras. O fato de não gostar, não significa que o cara vai queimar trabalho. Significa apenas que ele não gosta do dia mais chato da semana. Mas, se ele realmente precisa fazer parte do sistema, se tiver necessidade de encarar o trabalho remunerado semi-escravo para pagar as despesas e comer no mínimo três parcas refeições diárias, ele com certeza irá trabalhar, gostando ou não. E não é uma questão de motivação, de escolher o trabalho certo ou o errado, de estar frustrado ou feliz no emprego, é só questão de ter de abrir mão da tranquilidade, da pausa, da diversão do fim de semana, para se jogar de novo na vida real. A gente até vai lá e resolve, mas pedirem para gostar, é um pouco demais!
Já notaram que o carro, parado, quando é ligado, dá um solavanco antes de partir? Pois é, lei da inércia. Já notaram também que quando estamos sonhando um sonho gostoso detestamos ser acordados e perder a melhor parte? O princípio é o mesmo. Significa que, embora em algumas situações, a necessidade fale mais alto, nós relutamos muito antes de abrir mão da acomodação, do lazer, do prazer e mudar de status, da inércia para o movimento.
É isso, a segunda-feira é uma quebra no conforto que se estabelece na nossa alma a partir da sexta-feira, quando a promessa do fim de semana se insinua por volta das duas da tarde. Segunda-feira significa reconectar o sistema. Se fôssemos automáticos, estivéssemos eternamente ligados, aquecidos e prontos para o que der e vier, seriamos robôs e não pessoas. E é por ser gente e não máquina, que defendo o meu direito e o de quem mais tiver coragem de admitir, em dizer em alto e bom som:
EU ODEIO SEGUNDAS-FEIRAS!
Mar de Histórias 