XI – O rei destronado (parte 1)
O rei Paxá acordou com dor de cabeça. Também estava muito tonto e enjoado. Ele não se lembrava na última vez que sentiu dor de cabeça. Aliás, lembrava sim, nunca teve uma gripe, resfriado, dor de barriga, calos, chulé, piolho e muito menos enjôo. Apesar de sentir-se doente, coisa que ele tinha certeza que nunca tinha ficado na vida, o que chamou a atenção do rei naquela manhã não era o seu súbito e esquisito mal-estar. Também não notou que a rainha Isdora não estava ao seu lado, como deveria estar e esteve ao longo dos últimos 15 anos. Naquele momento, o rei não sentiu falta da sua rainha. O que estava muito errado, muito fora de ordem, era a falta de pãozinho de mel com geléia e de um menino de turbante com pedrinhas azuis e sapatinhos com as pontas viradas para cima, sorrindo e desejando bom dia. “Onde está o meu filho?”
Enjoado, sem filho, sem esposa – finalmente ele percebeu que a rainha Isdora também tinha sumido -, o rei Paxá notou que estava sem quarto. Depois de piscar algumas vezes, de sacudir a cabeça, coçar os olhos e respirar fundo contando até dez, ele finalmente percebeu que havia alguma coisa errada, misteriosa e sinistra acontecendo. ”Onde está o meu filho? Cadê a minha esposa? Onde eu estou?”
Sem saber por onde começar a procurar, sem saber o que pensar, o rei quase entrou em desespero, mas de repente lembrou-se do seu sábio conselheiro, e meio-irmão, Islamal. “ Islamal vai saber o que aconteceu, onde estão minha mulher e meu filho, porque eu estou aqui nesse calabouço e porque não me trouxeram café da manhã ainda. Tudo o que eu preciso fazer é me levantar desse chão duro, ir até aquela porta de madeira ali e chamar o meu conselheiro…”
Não foi tão fácil. A primeira dificuldade encontrada pelo rei, além da barriga roncando sem o desjejum, foi que ele descobriu que estava amarrado. Pior, estava acorrentado pelos tornozelos a uma parede de pedra cinzenta e manchada de limo. A outra dificuldade é que o lugar da sua prisão parecia deserto, inóspito, sem uma alma viva a quem pedir socorro, nem moscas zumbiam na cela. “Que tipo de brincadeira é essa?” – pensava o rei, embora lá no fundo soubesse que não era brincadeira nenhuma. Ele estava em apuros e se o rei estava em apuros tão sérios, isso significava que a rainha e o príncipe também corriam perigo. Significava ainda mais, a sua Cidade de Ouro e Prata, cheia de beleza e de paz, estava ameaçada…
Continua no próximo post
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Leia os outros capítulos da história:
>>Capítulo I: A cidade de ouro e prata
>>Capítulo II: A vida doce dentro das muralhas
>>Capítulo III: Uma gaiola dourada e um passarinho triste
>>Capítulo IV: O sinistro mago Islamal
>>Capítulo V: O pedido de Rajá
>>Capítulo VI: O plano de Islamal
>>Capítulo VII: Aprendiz de hipnotizador
Carta do príncipe Rajá aos pais
>>Capítulo VIII: A Floresta Sem Fim
>>Capítulo IX: A língua universal
>>Capítulo X: A feiticeira da lua crescente
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