As mil e uma aventuras do príncipe Rajá – XI (continuação)

XI – O rei destronado (parte 2)

O rei Paxá começou a gritar, gritou feito um louco durante horas, gritou até perder a voz, ameaçou, chorou, esmurrou a parede cinzenta e cheia de limo, tentou arrancar as correntes, mas isso só serviu para ferir-lhe os tornozelos. Chamou por Rajá, por Isdora, por Islamal, por qualquer pessoa, até ficar esgotado e rouco. Ninguém veio atendê-lo naquele dia e nem no dia seguinte e nem no dia depois do seguinte.

O calabouço era frio, úmido e escuro. Uma janelinha minúscula deixava à mostra um quadradinho de céu suficiente para o rei saber se era dia ou noite, mas ele não sabia em que dia da semana estava, nem em que mês. Não tinha certeza se tinha dormido apenas uma noite antes de acordar na prisão ou se tinha dormido infinitas noites e, de repente, acordado para um pesadelo tão horrível.

Sentia fome e imaginava que, a menos que estivesse sob algum encantamento, não poderia ter dormido semanas ou meses, senão teria morrido de fome e sede. No entanto, sentia-se fraco e seus pensamentos eram os mais desencontrados e confusos. “A cidade foi invadida? Mataram minha família? Mataram todos e me deixaram aqui para morrer nesse porão? Mas quem invadiria a minha cidade? Não tenho inimigos!!”

Quanto mais pensava que alguma coisa terrível tinha acontecido com a esposa, o filho e os súditos, mais desesperado ficava o rei. Sua esperança era encontrar Islamal, mas em seus delírios imaginava que o irmão estava morto. Quando esse medo tão grande de ter perdido toda a família vinha, geralmente quando ficava muito escuro e não dava mais para ver o quadradinho de céu na janelinha do calabouço, o rei Paxá chorava como uma criança.

Lamentava-se e também brigava consigo mesmo por nunca ter feito amizade com os reinos vizinhos. Se ele não tinha inimigos por viver isolado no seu palácio-cidade dourado, também não tinha amigos pelo mesmo motivo. Nessa hora de dificuldade, nenhum vizinho viria ajudar porque a Cidade de Ouro e Prata ficava longe demais de qualquer outro reino. Sem amigos, além da própria família e dos súditos, que ele julgava mortos, ninguém sentiria a falta do rei e por isso, não tentariam resgatá-lo. Ele estava condenado a viver no calabouço para sempre ou morrer de fome em mais alguns dias…

Continua no próximo post

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Leia os outros capítulos da história:

>>Capítulo I: A cidade de ouro e prata
>>Capítulo II: A vida doce dentro das muralhas
>>Capítulo III: Uma gaiola dourada e um passarinho triste
>>Capítulo IV: O sinistro mago Islamal
>>Capítulo V: O pedido de Rajá
>>Capítulo VI: O plano de Islamal
>>Capítulo VII: Aprendiz de hipnotizador
Carta do príncipe Rajá aos pais
>>Capítulo VIII: A Floresta Sem Fim
>>Capítulo IX: A língua universal
>>Capítulo X: A feiticeira da lua crescente
>>Capítulo XI: O rei destronado (parte 1)

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