VII – Aprendiz de hipnotizador
Rajá estava sentado na sua pedra favorita. Era uma pedra redonda e lisa, meio rosada e que ficava às margens de um dos lagos da Cidade de Ouro e Prata. Jogava migalhas de pão para os peixes. Estava tão distraído que nem percebeu a chegada do tio Islamal. Sorrateiro como uma serpente pronta para dar o bote, o mago se aproximou do menino:
– Que lindo dia não é Rajá? Imagino como deve estar encantador lá fora… Já pensou em pedir aos seus pais autorização para dar um passeio?
– Eles não deixam… – suspirou Rajá.
– Ora que bobagem, posso falar com eles se você quiser… – insinuou Islamal.
– Você faria isso!? – perguntou o menino, espantado, mas logo depois lembrou que o tio Islamal nunca havia demonstrado afeto ou interesse pelos seus problemas. Com as sobrancelhas erguidas e um ar desconfiado, Rajá perguntou: – Porque você quer me ajudar?
Islamal escondeu a contrariedade de perceber que Rajá ainda estava em alerta contra ele, sob uma máscara de puro arrependimento fingido: – Pensei que essa seria uma boa forma de fazermos as pazes. Bem, você é meu único sobrinho e nós dois nunca fomos grandes amigos, mas ainda dá tempo. Eu não tenho filhos e isso é muito triste na minha idade. Não tenho ninguém para quem ensinar as minhas artes mágicas…
Alguma coisa dentro de Rajá o alertou para o perigo de confiar em Islamal, mas uma outra coisa também se ouriçou toda ao ouvir a expressão “artes mágicas”. O menino era fascinado por magia e secretamente até já tentara realizar alguns truques, mas nenhum tinha dado certo. E se o tio Islamal fosse o seu professor? E se ele fosse só uma pessoa tímida e esquisita? Ninguém nunca tinha visto Islamal fazer alguma maldade, embora todo mundo na Cidade de Ouro e Prata jurasse que ele era muito malvado.
Islamal olhava para Rajá tentando adivinhar no que o garoto pensava. Também se esforçava para manter o sorriso fingido e amigável que tinha estampado na cara. Suas bochechas começavam a doer. Não estava acostumado a sorrir e ser bonzinho era muito cansativo. ”Vamos pirralho, diga logo que aceita ser meu aprendiz, diga, diga…” – pensava.
– Tio Islamal, você pode fazer tudo o que quiser usando magia? – indagou Rajá.
– Posso sim. Veja isto… – E ele transformou a pedra onde Rajá estava sentado numa confortável almofada.
– E o que mais você sabe fazer? – perguntou o menino, ansioso.
– Muitas coisas… quer que eu te mostre? – e sorriu novamente o seu sorriso fingido.
Rajá deu a mão ao tio mago e os dois saíram caminhando em direção ao laboratório secreto de Islamal. O menino acreditava que iria aprender muitos truques divertidos para mostrar aos pais e também estava confiante que, se o tio Islamal, conselheiro em quem seu pai depositava tanta fé, pedisse autorização a Paxá, com certeza o rei permitiria que ele explorasse o mundo além da Cidade de Ouro e Prata. Islamal, por sua vez, comemorava o sucesso da primeira parte do seu plano pérfido…
Continua no próximo post
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Leia também:
>>Capítulo I: A cidade de ouro e prata
>>Capítulo II: A vida doce dentro das muralhas
>>Capítulo III: Uma gaiola dourada e um passarinho triste
>>Capítulo IV: O sinistro mago Islamal
>>Capítulo V: O pedido de Rajá
>>Capítulo VI: O plano de Islamal
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