O Superior Tribunal de Justiça tomou uma decisão que me colocou para pensar em certos tipos de relacionamento. De agora em diante, a Lei Maria da Penha, criada para punir os agressores e proteger as mulheres vitimas de violência doméstica, valerá também para os namoros. Segundo nota publicada nesta terça-feira, 31, no portal A TARDE On Line, o STJ usou como base para ampliar a lei, a história de um casal que namorava há um ano e dez meses. Após o fim do relacionamento, o namorado passou a perseguir a ex, inclusive ameançando-a de morte. (Leiam a íntegra da notícia aqui). Recentemente, a imprensa do país inteiro noticiou um caso trágico, em que um ex-jogador de futebol matou a ex-namorada.
Sem entrar no mérito da questão de que precisamos ainda, nos dias de hoje, em nossa sociedade, de uma lei que impeça maridos de agredirem suas esposas e que agora também seja necessário a justiça intervir para que os namorados não agridam as namoradas; o que me intriga é que as pessoas mantenham relacionamentos que chegam a este nível de desrespeito. Longe de querer condenar as mulheres que se mantém ao lado dos agressores – é preciso sentir a situação na pele -, faço o seguinte raciocinio: um casal que começa a namorar e que protagoniza uma cena de violência no início do relacionamento, deve manter essa relação? Minha resposta pessoal é não. Eu não manteria envolvimento com alguém que me agride, porque a história de que as agressões vão parar após o casamento é uma grande mentira que nos contam e que nós mesmas contamos. É ilusão achar que a violência foi momentânea e que depois do primeiro tapa, outros não virão.
Namorados agressores serão maridos agressores. Isso é fato. O que leva um homem a agredir uma mulher é o desrespeito que ele sente por ela. É o fato dele acreditar que ela é uma propriedade, algo que pode ser governado por ele. Tem explicações históricas para isso, embora nada justifique que essa barbárie continue ocorrendo em pleno século XXI, quando tanto já se esclareceu sobre o comportamento humano.
Não se iludam meninas, se levou um tapa durante o namoro, a probabilidade de levar vários depois de assinados os papeis do casamento é imensa, acredito que ultrapasse os 100% de chances. Por que se envolver com um homem violento? Quando há casamento, filhos, dependência financeira, entendo que o problema é mais complexo e que talvez, por estarem envolvidas diretamente com a situação, muitas mulheres não enxerguem uma saída. Não as condeno, mas alerto que existe saída sim, é só ter coragem de denunciar e de reconstruir a vida. Não é fácil, mas é preciso optar por uma vida digna, ao invés de viver sob ameaças.
Mas e o namoro? Namoro é um tipo de ensaio, é um teste, é quando vemos se aquela pessoa que escolhemos para conhecer, para nos envolver, é a pessoa certa para nós. No namoro, descobrimos os gostos e manias uns dos outros; percebemos se dá para conviver com alguém que gosta de um estilo de música ou filme diferente do nosso. Se dá para dormir ao lado de alguém que gosta de luz no quarto, quando nós preferimos cortinas com blackout. No namoro, é quando planejamos o futuro, idealizamos, plantamos a semente do que pode vir a ser um relacionamento profundo e duradouro. Acredito que nada disso combine com tapas, perseguições, ciúme obsessivo ou humilhações. Sim, porque namorados que humilham, desmerecem, caçoam das namoradas o tempo inteiro, sempre desfazem delas e de seus sonhos, não incentivam e são egoístas a ponto de nunca desistirem dos seus programas individuais para compartilhar algo com a parceira, esses namorados também são agressores. Existem formas de violência que extrapolam o físico.
Aqueles que impedem que a namorada use uma roupa que a agrada, os que impõem o corte de cabelo que ela deve usar, os que impedem que ela mantenha amizades anteriores ao namoro, também são violentos. Fiquem atentas a esses sinais e, literalmente, fujam da roubada! Se uma conversa franca, se a honestidade de expor seus pensamentos, se as regras de respeito à individualidade dos dois é quebrada, ligue o alerta vermelho e avalie se vale mesmo a pena manter um namoro assim. E mais, avalie se vale a pena ficar noiva e casar com um homem assim. E não pense que, diante da apregoada “escassez de homens no mercado”, qualquer coisa serve. Você não merece qualquer coisa. Mantenha a autoestima elevada e pense no ditado antigo, do tempo da vovó: “se for para viver um inferno, antes só do que mal acompanhada”.
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