Felicidade Clandestina merece um capítulo a parte

felicidade-clandestinaDizer que Felicidade Clandestina é o mais belo conto da nossa literatura é uma injustiça. Não que ele não seja belo, mas porque apenas dizer que ele é belo não dá a dimensão de toda a sua grandeza, do quanto esse conto é delicado e ao mesmo tempo tem uma força arrebatadora. Ao recordar a infância no Recife, ao romancear a própria vida, Clarice Lispector criou um pequeno hino à esperança. Felicidade Clandestina nasceu na década de 60, para ser publicado no Jornal do Brasil, onde a escritora mantinha uma coluna diária. Mais tarde, virou título de um livro que reunia outros contos e crônicas da autora.

clariceClarice era pródiga de palavras, mas principalmente, sobravam sentimentos dentro dela. Os mais conflitantes, os mais ternos, os mais pungentes. O próprio título é um paradoxo, porque a felicidade é algo que quando nos arrebata, queremos que o mundo saiba. Jogamos nossos risos na cara de quem quiser ver. Andamos nas nuvens, sonhamos acordados. E não há nada que combine menos com a clandestinidade, com as sombras, do que a felicidade. Mas Clarice prova o contrário. Ela mostra que o clandestino é aquilo que nos arrebata sem anúncio prévio, que entra sem convite. Nesse caso, nada mais clandestino que a felicidade que chega sem esperar. Aquela pequena e secreta felicidade ao recordar um antigo (a) namorado (a) que marcou a nossa vida; ou ainda, quando lembramos daquelas férias de verão ou até o enternecimento que nos envolve quando num dia de sol incrivelmente amarelo ou de céu abençoadamente azul você olha pela janela e diz: “estou feliz!”

Porque a felicidade é um estado de espírito, e como todo estado de espírito, embora o espírito seja eterno, cabem tantos sentimentos dentro dele, que todos são transitórios. Vem e vão. Chegam e vão embora. Com a felicidade é assim. Ela nos assalta num dia e nos abandona no outro. Para voltar mais intensa no dia seguinte. Há momentos em que, mesmo quando não sentimos esse arrebatamento, essa paixão avassaladora, sentimos aquela serenidade, a calma dos que sabem que a felicidade existe e está ao alcance.

Felicidade Clandestina é a serena felicidade sempre ao alcance. A leitura do conto, com a redenção da menina pobre no final, um sinal de esperança, de crença na justiça. Mesmo que ela venha na forma de uma mãe que descobre que sua filha se diverte torturando uma colega de escola. Felicidade Clandestina é um estado de espírito de Clarice, que nos contagia a todos.

PARA SABER MAIS:

Leia Felicidade Clandestina

Assista, no site Porta Curtas, ao filme Felicidade Clandestina.

Um pensamento sobre “Felicidade Clandestina merece um capítulo a parte

  1. Pingback: Macabéa chega aos 40 – Mar de Histórias

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s