Ensaio sobre a solidão

Da série, Migrações

solidao

“A pior forma de solidão que se vive é a solidão acompanhada”. Lembrei da frase que uma amiga me disse uma vez porque hoje estava pensando naquelas pessoas que, seja o destino, falta de sorte ou mesmo missão espiritual, atraem para perto de si os doentes de alma. Conheço algumas pessoas assim, que sempre puxam para perto, como um imã, toda sorte de gente confusa, deprimida, que sofre de doenças profundas e obscuras, melancolia em grau máximo, baixa autoestima, inadequação ao mundo ou a si mesmo.

Admiro as pessoas que fazem da própria vida um eterno cuidar do outro, quem dera fosse tão evoluída a ponto de dar mais que receber, mas não sou São Francisco de Assis e acredito que boa parte da humanidade não é. Admiro a solidariedade, pratico e incentivo, mas sempre tenho um olho na gentileza e outro nos aproveitadores, que muitas vezes, sugam as nossas forças absorvendo cada ato delicado.

Ser solidário também é mostrar aos acomodados o caminho das pedras. Ser solidário é levar o outro a refletir e se ajudar. É o tal ditado do ensinar a pescar ao invés de dar o peixe. Existem momentos em que a ajuda, o estender a mão, o oferecer um ombro ou colo amigo, ou mesmo fazer-se de divã a um amigo atormentado, é um ato de amor ao próximo, mas é preciso entender que, em certas situações, há que se ter mais amor a si mesmo. Amigos que transformam outros amigos em eternos muros de lamentações para suas queixas não sabem o que é amizade. Porque só compartilham o lado obscuro de suas existências e toda amizade precisa de luz.

Li outro dia uma oração de Santa Edwiges, em um dos muitos livros de orações que quem tem mãe católica aprende a conhecer. E uma frase ficou gravada na memória: “Que seja eu a primeira pessoa a quem faço o bem”. Manter a própria sanidade, cuidar para que a autoestima esteja elevada, afastar-se de quem está à beira do abismo também é um ato de solidariedade com o outro, justamente porque é um ato de preservação da própria integridade.

Dois deprimidos não chegam muito longe, daí a necessidade de evitar carregar nos ombros os problemas dos outros, mas um amigo alto astral diminui sensivelmente a chance de se viver na pele a tão temida solidão acompanhada.

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