“Jornalismo se faz na rua”

Da série, Migrações

Outro artigo escrito em julho de 2008, que eternizo aqui no blog.

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A frase acima não é minha. Na verdade creio que não tenha um dono específico, é mais uma daquelas expressões cunhadas no ambiente das redações. Mas a ouvi de um professor espanhol, durante uma palestra, e ao escutá-la, lembrei de um ex-colega de faculdade, também ex-colega de redação.

Fomos criados na rua, eu e este colega, e mais centenas de jornalistas. A nossa geração é aquela situada entre os 30 e os 40 anos. Fomos para a rua cavar pautas, sentávamos no meio fio para conversar com as pessoas, ouvi-las e extrair delas o que de mais impressionante pode existir no cotidiano aparentemente sem graça. Portanto, nos consideramos “jornalistas de verdade”.

Diante da nova geração, da turma na casa dos 20, nos sentimos meio tios, meio mestres, meio deslocados. Não falamos a língua internética tão bem quanto os repórteres de agora, mas perseguimos a rede com sofreguidão, dispostos a aprender seus caminhos tortuosos e virtuais.

Durante a palestra, o mesmo professor espanhol chamou essa nova geração de jornalistas-google. Meu ex-colega dizia a mesma coisa, as vezes até irritava outros colegas com as piadas sobre reportagens control c + control v. Destilava preconceito contra a internet. Ele não faz parte do grupo de “tiozinhos” que tenta a todo custo dominar a rede.

Tenho de concordar com o professor espanhol, e por tabela com o meu ex-colega, e admitir que atualmente existe uma preguiça desesperadora nas redações. Preguiça da geração atual, que, correndo o risco de ser saudosista, me parece meio apática, meio “aaah, fiz jornalismo porque achei que era cool“. Desesperador para os apaixonados pela profissão, para os que não vivem sem a “cachaça” da notícia.

É apatia geral? Lógico que não. Todos os novos jornalistas recém saídos da faculdade – eles entram na escola cada vez mais novinhos -, são jornalistas-google? Também não. Para que tentar reinventar a roda se nesse caso uma obviedade gritante resolve a questão? Lá vai a obviedade: Toda regra tem exceção.

Conheço jovens jornalistas brilhantes, conheço velhos jornalistas acomodados a ponto de criar raízes. Mas como hábito ruim é contagioso, percebo que cada vez mais existem novos jornalistas buscando o meio mais fácil de fazer notícia. E notícia, na minha opinião, não é fácil pelo simples fato de que reflete a vida e a vida, até para ser divertida, mescla períodos de calmaria relaxantes e necessários, com outros daquela turbulência que nos força a rever posturas, refazer, reeditar, inventar, descobrir, enfim, caminhar para a frente.

Notícia não é fácil porque a vida não é fácil. Jornalismo não é fácil porque requer compromisso. O jornalista pertence a categoria de formadores de opinião. O que escrevemos tem um efeito sobre a sociedade, por isso é preciso exercer a profissão com consciência. E consciência não tem relação com linha editorial ou as ordens que vêm de cima, na hierarquia da empresa. Consciência é algo que precisa existir no jornalismo institucional, nos blogues ou portais, nas revistas ou nos panfletos, no jornalismo independente, porque independência pressupõe liberdade e a liberdade é um bem que temos de saber como usar, do contrário, vira uma palavra de sonoridade poética.

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