Quando o medo paralisa

medo“O medo da inadequação tornou-se doença universal, ou quase”, diz o sociólogo polonês Zigmunt Bauman, autor de Tempos Líquidos e de Medo Líquido (ver dica de leitura abaixo). Bauman se preocupa com os medos invisíveis, aqueles gerados do sentimento de estranheza ou resultantes da nossa sociedade em rede, aberta e por isso mesmo “exposta aos golpes do destino”. Outro dia, escrevi sobre aqueles medos comuns, de insetos, roedores ou outros bichos nojentos que teimam em aparecer nas horas mais impróprias. Na ocasião, prometi falar sobre os medos mais complexos, aqueles que necessitam de ajuda profissional, da psicoterapia, para serem vencidos. Não sou psicóloga e nem pretendo indicar tratamentos ou curas milagrosas para fobias. Seria leviandade, pois existem problemas que requerem investigação profunda das suas causas. E isso, só quem pode fazer é o profissional habilitado, seja médico, psicólogo ou psiquiatra. Mas, como mãe, entendo daqueles terrores noturnos que fazem com que nossos filhos pulem da cama deles para a nossa; ou do medo de pagar mico quando a adolescência se insinua através de buços e variações de humor típicas da idade.bicho-papao Esses medos, nós pais, com bom-senso e muito diálogo, podemos vencer. Como cidadã, também entendo dos medos que Bauman cita em seu livro, pois estes são os medos que nos afligem a todos. A violência cresce nos grandes centros urbanos e alcança até o interior, quando nós, em nossos devaneios, muitas vezes sonhamos em nos mudar para uma cidade pequena, pensando em fugir das grades nas janelas. Esse medo, apesar de mais complicado do que os bichos-papões que assustam nossos filhos, também podemos combater, com consciência política, consciência ecológica, exercício de cidadania. Não é fácil, mas temos de tentar tornar o mundo em que vivemos, em que viverão nossos netos, um lugar menos ordinário. Pesquisando sobre o medo, descobri que ele não é sinônimo de fraqueza. Sentimos medo quando nos sentimos ameaçados. O medo provoca suores, taquicardia, mas também possibilita que nosso organismo receba a descarga de adrenalina que vai nos deixar alertas em situações em que nossa integridade física está ameaçada. Claro que existem medos que se originam de dentro para fora e que crescem até a dimensão da Síndrome do Pânico. Esse medo que paralisa, que atrapalha as relações sociais, que nos impede de ser produtivos, que provoca depressão, esse precisa de ajuda para ser superado. Não existe fórmula mágica, uma pílula anti medo. Geralmente, é preciso percorrer um longo caminho de autoconhecimento, para adquirirmos autoconfiança e aí sim, vencermos o medo. Os psicólogos costumam usar uma técnica de escalonamento dos medos. Dos mais leves aos mais complexos, até chegar àqueles designados fobias. Depois de traçar esse ranking do que assusta menos para o que aterroriza, existem terapias, exercícios que o paciente faz para conseguir respostas mais equilibradas do organismo e para fortalecer o psíquico e enfrentar as dificuldades. Muitas vezes, quando alguém se sente prisioneiro do medo, tendemos a aconselhar que apenas força de vontade basta. Para algumas pessoas sim. Outras, porém, vão precisar de muito apoio familiar, de amigos, de força de vontade e de ajuda profissional para cumprir a jornada de descobertas pessoais que vão colocá-la não como refém de medos invisíveis, mas no controle da situação. O importante é não ter medo de admitir que todos nós, em qualquer grau ou circunstância da vida, somos perfeitamente passíveis de ter uma crise de pavor e totalmente capazes de superá-la.

DICA DE LEITURA:

medo-liquidoMedo Líquido
Autor: Zigmunt Bauman
Editora: Zahar
Fala de quê: Neste livro, o sociólogo polonês Zigmunt Bauman, autor de Tempos Líquidos, fala sobre os medos que afligem a sociedade moderna. Temos medo de perder o emprego, da violência urbana, do terrorismo, de ficar sem o amor do parceiro, da exclusão. O resultado é que estamos sempre circulando em locais fechados como os shoppings, vivemos rodeados de grades em casa e nossos carros são blindados. O autor faz um diagnóstico preciso dos medos contemporâneos, mostrando suas origens e a influência sobre a vida das sociedades.

PARA FALAR DE MEDO COM AS CRIANÇAS:

quem-tem-medo-de-ridiculo1Quem tem medo de ridículo
Autora: Ruth Rocha
Editora: Global
Fala de quê: A consagrada autora infanto-juvenil brasileira brinca com as palavras e apresenta o medo para as crianças como um estágio natural do ser humano e uma etapa a ser vencida. Através de situações que vão da “barata casquenta nojenta” ao medo de pagar mico, a autora mostra que todos, em algum momento da vida, por mais valentes que sejam, sentem medo de alguma coisa.

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