Por que existe Dia Internacional da Mulher?

mulher_blogMe fizeram essa pergunta uma vez: Por que vocês, mulheres, que lutam tanto por igualdade, querem ter um dia só de vocês, se também não existe o Dia dos Homens? (na época, ainda não existia o Dia do Homem, uma invenção recente e duvidosa, com fins comerciais. Porque, convenhamos, criar uma data para celebrar quem já nasce com status privilegiado, é abusivo). A pergunta foi feita por um homem, claro, e com a justificativa de que o Dia Internacional da Mulher era só mais uma data para o comércio vender batons e perfumes. Na ocasião, fiquei bastante chateada e travei daquelas discussões ideológicas que cansam muito e pouco efeito surtem. Mais madura, acredito ter encontrado a resposta ideal não só para o amigo que tentou me provocar tantos anos atrás, como para tantas pessoas que ainda questionam a importância do dia de hoje.

Afinal, o que é ser uma mulher? É ter o dom de parir? Ser mais compreensiva? Amamentar? Zelar pelo bem-estar de quem está ao nosso redor? Ser bem resolvida? Trabalhar fora e dentro de casa? Optar por não procriar e doar o seu amor feminino, humano, para não dizer materno, a todos aqueles que precisarem de nós, como fez Madre Tereza? Saber olhar os detalhes das coisas? Ser rebelde como Janis Joplin? Ter sexto sentido? Andar de salto alto e brincos enormes? Usar meia-calça dentro de um ônibus sem que ela desfie? Ensinar o dever de casa aos filhos, fazer pós-doutorado e ainda encontrar tempo de ir à academia? Dirigir um caminhão? Não ter a menor ideia de como se liga um carro? Embarcar em um foguete rumo ao espaço sideral? Precisar que o vizinho troque o botijão de gás? Trabalhar com cólica? Ganhar o Nobel de Física? Chorar de felicidade ou rir das ironias da vida justamente para não chorar? Não ser nada disso descrito acima? …

mulher-dois_blogSão tantas definições, tantos papeis que nos oferecem, nos enquadram de tantas maneiras, que poucos percebem ou sequer pensam que uma mulher é um ser humano como todos os outros. Porque vamos entender que sim, somos diferentes dos homens na anatomia dos nossos corpos, mas nem por isso inferiores a eles. Temos necessidades parecidas com as deles no que diz respeito, por exemplo, ao direito a cidadania e a dignidade. Mas temos necessidades especificas do nosso sexo também, já que funções reprodutivas como gerar, parir e amamentar ainda são exclusividade nossa. Também menstruamos, o que não acontece com os homens. Entre outros motivos, também por conta dessas diferenças biológicas, temos visões de mundo diferentes, mas que, se reparar bem, não são superiores ou inferiores às dos homens.

Acredito que a maioria das mulheres não luta por uma sociedade de amazonas, em que elas sozinhas se bastem. Da mesma forma que nenhum homem deve desvalorizar a figura da mulher na sociedade a ponto de pensar que elas são dispensáveis ou nascidas para servi-los. Não somos. O sangue mensal e a maternidade não nos fazem mais fracas e menores. Nossos hormônios não nos diminuem! A maternagem (o cuidar do outro), inclusive, não é característica exclusiva nossa.

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Na sociedade moderna atual, mega veloz e ultra informada, não cabem mais as lutas tão radicais que deram origem ao Dia Internacional da Mulher. Será? Diante das formas graves e sutis de violência que as mulheres ainda enfrentam, o radicalismo se explica. Da mesma forma, não cabem mais o martírio ao qual centenas, milhares de mulheres foram submetidas por séculos, em nome de uma suposta supremacia masculina. No entanto, o martírio de muitas mulheres no mundo ainda é uma realidade. Não somos melhores, nem piores que os homens, somos apenas diferentes em alguns aspectos. O que buscamos é respeito nas nossas diferenças, além da igualdade de direitos enquanto pessoas. Isso se aplicando a todas as pessoas, inclusive – e principalmente – àquelas consideradas “fora da norma” padrão vigente. Padrões negativos, preconceituosos e excludentes, inclusive, já deveriam ter deixado de ser norma!

No entanto, não podemos esquecer que mulheres morreram para que a sociedade começasse, tantas décadas depois, a questionar o machismo. Queremos reconquistar o lugar que sempre foi nosso de direito, mas que nos tiraram ou deixamos que tirassem por um tempo longo demais. Esse sistema patriarcal que oprime as mulheres e os próprios homens já devia estar extinto! Mas é essa reconquista é que dá um trabalho danado. Para cada mulher que se levanta e brada por seus direitos, aparece um grupo radical (de homens ou de mulheres que reproduzem o discurso machista, o que é uma lástima) a reclamar só porque não quer perder seus privilégios. O machismo é uma forma de exercício de poder, para que os homens não percam os privilégios que acreditam ter direito apenas por terem nascido homens.

O Dia Internacional da Mulher é um tributo a todas nós, mães e não mães; estudantes e não estudantes; donas de casa e executivas poderosas; vaidosas e desencanadas; magras e gordas; ricas e pobres; negras, brancas, mestiças, indígenas, orientais, heteros, lésbicas, cis, trans… É um tributo à história de luta das mulheres pela reconquista dos seus direitos, da sua autonomia, da capacidade de gerenciar suas vidas, suas vontades e seus corpos.

Viva o nosso dia!

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UM POUCO DE HISTÓRIA:

O Dia Internacional da Mulher tem origem nas lutas das operarias norte americanas por melhores condições de trabalho, equiparação salarial e diminuição da jornada de trabalho, em meados do século XIX, nas fábricas têxteis de Nova Iorque. A data 8 de março foi estabelecida em memória de 146 trabalhadoras que morreram queimadas em fábrica da Triangle Shirtwaist, em 1910. O incêndio ocorreu porque a fábrica oferecia péssimas condições de segurança. Alguns historiadores refutam a tese de que as operárias teriam sido trancadas na fábrica propositalmente e queimadas vivas por protestarem. Mas basta olhar para a história da humanidade e perceber que queimar mulheres era prática recorrente durante a Inquisição, então não seria nenhum absurdo acreditar que mulheres que levantaram a voz para exigir seus direitos foram martirizadas.

O Dia da Mulher, amplamente comemorado em diversos países nas décadas de 20 e 30 – principalmente devido aos protestos do sufrágio (voto) feminino – caiu no esquecimento durante os horrores da II Guerra Mundial e nos anos da reconstrução pós-guerra. Na década de 60, o Movimento Feminista resgatou a data e em 1975, a ONU estabeleceu o Ano Internacional da Mulher.

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MULHERES DO BRASIL:

Vocês sabiam que, até o início dos anos 30, aqui no Brasil, as mulheres eram vistas aos olhos da sociedade, com respaldo na justiça, como seres incapazes? As mulheres não podiam ter conta bancária, sequer caderneta de poupança, comprar ou vender imóveis, administrar seus bens. Enquanto fossem solteiras, eram tuteladas pelos pais ou, na morte destes, por responsáveis legais. Após o casamento, o marido era quem assumia o papel de tutor. Sem a assinatura dele, a dela não valia nada, nem mesmo se a questão envolvesse a administração da própria herança. O voto feminino foi conquistado só em 1932, com o Código Eleitoral Provisório, de 24 de fevereiro. Ainda assim, só as mulheres casadas podiam votar com a autorização expressa dos maridos. Posteriormente, o benefício foi estendido às viúvas e àquelas que tinham renda própria. O voto feminino sem restrições só ocorreu em 1934, ainda assim, não era obrigatório. Só em 1946 as mulheres tiveram o mesmo direito que os eleitores homens. No entanto, como toda história tem exceção, em 1927, um pequeno estado nordestino, o Rio Grande do Norte, deu exemplo de cidadania, reconhecendo o voto feminino e aceitando mulheres como candidatas a cargos do legislativo.

PARA LER E SABER MAIS:

historia-das-mulheresHistória das Mulheres no Brasil
Organização: Mary Del Priori
Editora: Contexto
Sinopse: O livro reúne artigos de historiadores e da escritora Lígia Fagundes Telles, que contam a história da mulher brasileira desde os tempos coloniais até os nossos dias. “Como nasciam, viviam e morriam as brasileiras no passado e o mundo material e simbólico que as cercavam”.

historia-das-relacoes-de-generoHistória das Relações de Gênero
Autor: Peter N. Stearns
Editora: Contexto
Sinopse: O livro trata das ideias estabelecidas sobre homens e mulheres quando sistemas culturais distintos entram em contato. Valendo-se de uma grande variedade de exemplos, da pré-história ao século XXI, e abarcando diferentes sociedades, da China às Américas, da África ao norte da Europa, passando por Oriente Médio, Rússia, Japão e Austrália, o historiador Peter N. Stearns delineia o quadro dos encontros culturais internacionais mais significativos e seus efeitos sobre as relações de gênero.

historia-de-mulheresHistória de Mulheres
Autora: Rosa Montero
Editora: Agir
Sinopse: A autora retrata quinze mulheres extraordinárias, com trajetórias distintas e algo em comum: a capacidade de desafiar as normas vigentes, superar preconceitos e marcar seus nomes na história. Os textos trazem informações biográficas relevantes e referências a mulheres como Simone de Beauvoir, Camille Claudel e Frida Kahlo, entre outras.

mulheresnegrasMulheres negras do Brasil
Autores: Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil
Editora: co-edição da Redeh (Rede de Desenvolvimento Humano) e Senac
Sinopse: O livro resulta de uma pesquisa que durou três anos e percorreu todo o país, enfatizando os estados do Maranhão, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O conteúdo aborda estudos que datam de um período anterior à chegada dos europeus, fazendo uma narrativa até os dias atuais. A mulher negra é revelada nas artes, na política, nos esportes e em outras atividades profissionais.

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